Lixo no litoral

Feriado caótico

Instituto Argonauta denuncia grande quantidade de lixo durante o feriado prolongado de 7 de setembro no litoral norte paulista.

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Praia Grande de Ubatuba na manhã de 7 de setembro.Alex Arruda
Praia Grande de Ubatuba na manhã de 7 de setembro.

O feriado de 7 de setembro nas praias do litoral norte de São Paulo foi marcado pelo grande número de visitantes e infelizmente por uma imensa quantidade de lixo nas praias.

É o que constatou a equipe do Instituto Argonauta em uma prévia da avaliação para a 23ª edição do Boletim do Lixo – desenvolvido pelo Instituto Argonauta, em parceria com o Aquário de Ubatuba.

Durante suas atividades de monitoramento de fauna, a equipe do Argonauta se deparou com várias situações inadmissíveis para as praias, que até pouco tempo apontavam uma diminuição desses resíduos.

O boletim tem o objetivo de informar mensalmente a situação das praias do litoral norte de São Paulo com relação à presença de lixo, como forma de fomentar a ação de políticas públicas para ajudar a gerenciar o problema.

Os dados sobre os resíduos nas praias durante o mês de setembro devem ser publicados na íntegra no próximo mês, porém o resultado do último final de semana chamou a atenção, e o Instituto Argonauta já tem os registros dos acúmulos de lixo durante o feriado prolongado.

São quatro as categorias estipuladas pelo Boletim: Ausente, quando não há evidência de lixo; Traço, com a presença de alguns itens espalhados; Inaceitável, com algumas acumulações e Caótico, com várias acumulações, sendo a categoria mais grave.

“Houve maior incidência nos resíduos principalmente pelo aumento de número de pessoas nas praias. Isso ficou muito claro porque contrastou com as praias que estavam vazias em razão da pandemia, e de repente as praias lotaram, principalmente com a vinda de turistas. Praia Grande de Ubatuba foi um exemplo muito claro, assim como as praias do Centro de Caraguatatuba”, ressalta a bióloga Natalia Della Fina, responsável pelo Boletim do Lixo.

A bióloga ainda ressalta sobre a importância do Boletim, que “veio para sensibilizar e informar a população, a comunidade local, os turistas e a as autoridades públicas sobre a situação das praias em relação a presença de resíduos, até mesmo para se ter um levantamento de dados para poder criar possíveis medidas mitigadoras e concentrar os esforços de limpezas em lugares que tem a maior incidência de resíduos”, detalha.

Presidente do Instituto Argonauta, o oceanógrafo Hugo Gallo Neto atenta para as consequências do descarte incorreto do lixo na fauna marinha.

“Muito comum as tartarugas virem a óbito, um animal que ocorre aqui na região – uma área importante para alimentação de tartarugas-verdes. Encontramos muitas tartarugas com plástico no estômago, pois confundem com alimento e plásticos em muitas aves marinhas, como pinguins e outras aves que acabam ingerindo o resíduo causando sua mortalidade. Associamos como uma das principais causas de mortalidade de animais marinhos no Litoral Norte o plástico de origem humana, especialmente o plástico descartável”, salienta.

O oceanógrafo ainda lamenta o comportamento das pessoas durante o feriado, em relação ao descarte inadequado de resíduos ao longo das praias do litoral norte.

“Infelizmente nesse feriado constatamos uma total falta de educação e respeito por parte da população, que veio desfrutar das praias e da nossa natureza ainda preservada, mas deixando seus resíduos de forma impactante na região. Não há como as prefeituras conseguirem limpar na proporção em que essas pessoas sujaram. Teríamos que ter equipe 24h por dia limpando as praias. Isso mostra a necessidade da educação, políticas públicas e legislação com penalidades para quem dispor dos resíduos em local inadequado”, aponta.

Hugo Gallo reforça a necessidade de se criar mais leis que visem punir e, consequentemente, coibir esse tipo de comportamento. “É importante que prefeituras e vereadores se atentem para o problema e criem leis que penalizem as pessoas que infringem, pois isso é um problema ambiental, para os animais, para a saúde pública e um problema econômico porque a Prefeitura que terá de limpar, pois quem vai querer frequentar uma praia nessas condições?”, finaliza.

O boletim do lixo pode ser acessado na íntegra pelo site da instituição. O Aquário de Ubatuba, o Projeto Tamar foram as primeiras instituições a trabalhar na problemática do lixo marinho e seus impactos na fauna marinha, no Brasil e na região do litoral norte paulista.