Nã Kama Kai

Troca de culturas em Búzios

Idealizado pelos campeões mundiais Phil Rajzman e Duane DeSoto, encontro Nã Kama Kai celebra as culturas havaiana e brasileira em Búzios (RJ).

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Nã Kama Kai apresenta as culturas indígenas e quilombola a cerca de 60 havaianos no litoral fluminense.

Um encontro de peso e muitos simbolismos movimentou a The Search House (TSH), na praia Rasa, na tarde nublada da última quinta-feira (22), em Búzios (RJ). Nas prévias do Nã Kama Kai, que será realizado no próximo sábado (24), no mesmo local, a cultura havaiana e brasileira convergiram-se numa troca de conhecimentos e novas experiências.

Para além do surfe, o dia foi voltado para os ensinamentos e união. Ensinamentos às crianças, que aprenderam a enxergar além de nosso esporte, criando, desde cedo, um entendimento do quão importante é a preservação da natureza, dos oceanos, além de cultivar o respeito e alimentar os bons costumes dentro e fora d’água.

O encontro foi idealizado pelos campeões mundiais de longboard, o brasileiro Phil Rajzman e o havaiano Duane DeSoto, na intenção de apresentar as culturas indígenas e quilombola do Brasil aos cerca de 60 havaianos que aportaram no Rio de Janeiro para este evento.

“Foi um pedido que o Duane me fez. Ele não queria apenas trazer as crianças havaianas para o Brasil para apresentar sua própria cultura, mas sim fazer uma troca de culturas diferentes e aprender um pouco com os nossos nativos”, diz Phil. “E conseguir realizar isso é, também, a realização de um sonho”, completa.

Inaugurando as atividades, uma enorme roda foi formada na faixa de areia em frente ao TSH, onde cerca de 50 pessoas deram as mãos para receberem as primeiras mensagens acerca do propósito daquele encontro. De pronto, a defesa da natureza foi o mote principal das conversas. Brasileiros e havaianos fizeram coro sobre a importância da defesa dos oceanos e, atualizados sobre o atual momento, declararam seu apoio à floresta amazônica e à toda mãe natureza.

Bicampeão mundial de longboard, Phil Rajzman tem fortes raízes com a comunidade havaiana.

Em seguida, os voluntários da ONG Mar Sem Lixo, de Cabo Frio, comandaram um mutirão até a praia de Manguinhos. Após cerca de 1 hora de coleta, aproximadamente 500 kg de lixo foram recolhidos. Mais uma vez, mesmo em um percurso relativamente curto e em uma praia pouco populosa, as evidências do tanto de sujeira que despejamos nas praias foram gritantes. O que comprova ainda mais que trabalhos como esses do Mar Sem Lixo, são essenciais na tentativa de preservação das praias.

Após o mutirão, foi chegada a hora do momento mais esperado do dia: as celebrações indígenas e quilombola, além da apresentação dos locais havaianos de Makaha. Foi uma troca intensa e emocionante. Os cânticos da tribo Fulni Ô, originária de Pernambuco, se juntaram às vozes de representantes da tribo Guarani, que logo receberam o apoio das dezenas de outras vozes presentes.

Logo na sequência, os quilombolas residentes da Baía Formosa, em Búzios, fizeram seu show e, mais uma vez, deixaram todos os presentes emocionados com tamanha energia cantada e dançada.

Chegada a vez dos havaianos, o porta-voz do grupo, Lanoa Kamakai, foi quem guiou a cerimônia. Acompanhado de perto pelo legend Bruce DeSoto, o “Uncle” Bruce, os havaianos trouxeram um pouco da água salgada (de verdade) do Havaí, simbolizando a união e harmonia, que para eles significa o mar.

“Para muitos o oceano divide, para nós é ele quem nos une”, fala Uncle Bruce. “Na minha geração nós não nos importávamos muito com a proteção de nossa terra. Havia muitos peixes e a natureza era mais abundante. Hoje, já não vejo um futuro muito promissor. Por isso estamos ensinando nossas crianças a cuidarem de suas terras, de preservarem a natureza e a sua cultura nativa. Ter visto os índios brasileiros pela primeira vez me fez ter arrepios. Senti muita energia deles. Me senti com um deles, na verdade. Isso prova que não se trata apenas de pegar onda; vai muito mais além”, completa o legend havaiano, local máximo de Makaha.

A lição do dia foi que há muito mais que o surfe pode nos proporcionar e há muito mais a ensinar aos mais novos. Afinal, o surfe não é apenas um esporte e deveria ser, de fato, um estilo de vida. Saudável, harmonioso e de muitas energias positivas.

“Mesmo não entendendo a língua dos brasileiros, me senti incrivelmente conectada e pude sentir a energia vinda dos nativos daqui – algo que não lembro de ter sentido antes. Foi emocionante ver o que o oceano e nossas vivências podem nos proporcionar”, fala uma jovem havaiana, às lágrimas, em uma roda que eles fizeram ao final do evento, onde cada um falou o que achou deste primeira experiência no Brasil.

Os havaianos continuarão por aqui. No sábado, a partir das 8 horas da manhã, cerca de 6 crianças de projetos sociais da região estarão presentes, incluindo jovens do Morro do Alemão, para celebrarem o Ña Kama Kai, que marcará também o aniversário de Duke Kahanamoku.