Californication

Final day na imprensa gringa

Mídia internacional demonstra má vontade para comentar o tricampeonato mundial de Gabriel Medina e o domínio dos brasileiros no surfe competitivo.

0
Domínio brasileiro dropa quadrado na aceitação dos veículos internacionais.

A mídia gringa, sempre reverenciada por aqui como um exemplo a ser seguido, não reage bem quando provocada pela realidade incômoda do Brazilian Storm.

Também não faz a menor questão de elogiar as recentes conquistas dessa gente bronzeada que mostra seu valor no Circuito Mundial e em outros eventos mais ou menos desprezados pela elite do sistema, como os Jogos Olímpicos.

Basta uma olhada para algumas das publicações mais emblemáticas para notar um certo desconforto com a presença de Gabriel Medina, Filipe Toledo e Italo Ferreira na ponta do ranking masculino, incluindo um total desprezo ao vice mundial da gaúcha Tatiana Weston-Webb, a ponto de o Surfline considerar Kelly Slater e Mick Fanning como o ponto alto da repescagem de luxo no playoff de Trestles.

Enfim, o declínio do império do cabelo parafinado é um problema deles. Mas, como o surfe brasileiro é um problema nosso, é importante saber o que andam falando por aí.

Até porque ninguém tem culpa se o John Florence anda problemático com seguidas contusões, se o Kelly Slater já está tiozinho, se o Jordy Smith também não vai pra frente, se o Julian Wilson está preocupado com o Covid-19 e prefere ficar no aconchego do lar, ou se o Jack Robinson sei lá o quê com alguma desculpa boa pra não vingar no Tour até agora.

Surfline – Lá pelo fim do texto, o conceituado e admirado Nick Carroll admite: “Gabriel Medina é o melhor surfista de competição que eu já vi”, isso um pouco antes de falar do título da havaiana Carissa Moore, bem depois de analisar os erros de “sempre” cometidos por Filipe Toledo.

Na abertura do texto, alguns generosos e fartos elogios ao que houve de melhor no Final Day segundo Carroll: os comentários bem articulados, precisos e fundamentais de Kelly Slater e Mick Fanning para manter um certo ar de enfado diante da decadência anglo-saxônica no Tour.

Surfer – A mais tradicional publicação internacional simplesmente nem se dá ao trabalho de perder tempo com comentários mais especializados sobre as vitórias de Gabriel Medina e Carissa Moore. No lugar do abandonado papel de 4 Rodas do surfe, dá um Control+C no release da World Surf League e vida que segue em busca de um novo Chris Ward pra chamar de seu.

Tracks – A revista australiana faz jus ao conceito de mídia especializada, analisa as principais baterias do dia, ironiza as críticas do público ao Final Day, destaca o Flynntstone Air bizarro do Medina contra Filipe, na segunda da melhor de três, e finaliza com um elogio ao romantismo do tricampeão para com sua amada.

“Medina, o homem casado, conquistou seu terceiro mundial. No discurso de comemoração, ele se voltou para sua esposa Yasmin e disse: ‘Nós merecemos isso.’ O uso da primeira pessoa do plural no pódio foi um gesto doce, um indicador de para onde Gabriel direciona sua vida”.

Para compensar a falta de australianos competitivos no Circuito Mundial, o Tracks requenta o fato de que os treinadores de Medina, Andy King, e de Carissa, Mitch Ross, são da terra dos cangurus.

Surf Total – O site português, um dos mais importantes da Europa, é menos reticente à vitória de um brasileiro e destaca o fato de Medina se unir a Tom Curren, Andy Irons e Mick Fanning com três títulos mundiais.

“Com 16 vitórias no Championship Tour (CT) e 29 participações na final, Medina é um dos surfistas mais experientes quando se trata de mostrar o melhor surfe sob pressão. Nesta temporada, Medina teve o melhor início de carreira, chegando à final nas três primeiras provas do circuito masculino do CT. O atleta ganhou uma vantagem significativa sobre os seus adversários quando venceu o Rip Curl Narrabeen Classic e o Rip Curl Rottnest Search, os primeiros eventos que ganhou na Austrália desde o Quiksilver Pro Gold Coast em 2014. Desde que ganhou o seu primeiro título mundial em 2014, Medina terminou entre os cinco primeiros a cada ano e conquistou o seu segundo título mundial em 2018”, analisa.

Beach Grit – O blog que se auto define como uma “companhia multinacional”, porém mais na linha da esculhambação, lança um título pornográfico na tentativa de desqualificar o surfe tupiniquim: “bacanal brasileiro”!

Para se livrar da tarefa de repercutir com profundidade a vitória do brasileiro, recupera um diálogo saboroso entre Fanning e Slater.

“Medina só precisou de duas das três baterias possíveis para conquistar o título. ‘Como você vence Gabriel Medina duas vezes em um dia? É muito raro’, diz Mick Fanning. Ele tem tantas maneiras diferentes de vencer. ‘Para vencer, você tem que aleijá-lo!’, responde Kelly Slater.

Fontes Surfline, Surfer, Tracks, Surf Total, Beach Grit.