Surfe e Medicina

Retorno ao outside

Dr. Guilherme Vieira Lima dá dicas preciosas sobre a volta ao surfe após a quarentena.

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Muitos estão na fissura para recompensar as horas perdidas longe do mar.

Início da abertura das praias para a prática do surfe e muitos ainda se perguntam: “mudou alguma coisa?”. A coluna desse mês vai responder essa e muitas outras dúvidas.

Infelizmente, essa pandemia deixou e ainda deixa um gosto amargo em todos nós. No aspecto da saúde no surfe, muitos ficaram sem sentir o gosto salgado do mar por meses, e num momento de afrouxamento da quarentena, querem tirar o “atraso”, surfando freneticamente por horas sem intervalo. Precisamos lhes informar que esse tipo de conduta é muito perigosa e nada saudável.

O seu corpo durante o sedentarismo da quarentena se transformou. Muitos ganharam peso e/ou fizeram a troca da massa magra por massa gordurosa. Aém disso, os estímulos provocados pela atividade física ao seu coração e pulmão deixaram de ser ativados na mesma intensidade e a excitação musculoesquelética também foi diminuída. Esses são alguns pequenos exemplos de mudanças no seu corpo que implicam numa importante alteração metabólica.

Temos ainda a situação de alguns que se contaminaram pelo vírus da Covid-19 que tiveram sintomas importantes. Já é sabido que o vírus impacta diretamente no miocárdio e pericárdio, podendo produzir diversas doenças no coração (miocardiopatias, miocardites, arritmias, pericardites) e dessa forma produzir muitos sintomas como dores torácicas, cansaço, fadiga, palpitação, intolerância ao exercícios e, em casos mais graves, até morte súbita.

No pulmão, o vírus danifica diversas estruturas e provoca uma intensa inflamação pulmonar, caracterizado pela dor, tosse, cansaço e diminuição da capacidade de realizar as trocas gasosas. Dores articulares e musculares são também sintomas frequentes nas doenças virais e no caso da Covid-19. Essas queixas são intensas e muitas vezes incapacitantes.

Nesses casos mencionados, é muito importante que o surfista seja avaliado por um profissional médico antes do retorno às atividades físicas vigorosas. Para aqueles que ainda apresentam qualquer sintoma, a recomendação é de que não surfe até remissão total do quadro viral.

Outro aspecto importante que altera a “etiqueta do surfe”. Os costumes de cumprimentarmos, conversarmos e interagirmos no ambiente de praia e surfe também mudaram (pelo menos por enquanto). A orientação atual é que o surfista se direcione à praia para surfar e retorne para sua casa assim que acabar a queda. Fato triste, porém, momentaneamente, necessário para conter a disseminação da doença.

Equipe do SID desenvolve guia completo com orientações para o retorno ao surfe.

Realizar um programa de readaptação ao exercício com educadores físicos, uma avaliação médica em caso de sintomas ou pós sintomas, ficar em casa isolado na presença da doença ativa, um controle do tempo de queda no surfe e manter-se bem hidratado com uma alimentação saudável são algumas das medidas preventivas para evitar-se qualquer dano maior a saúde. Controlar a mente e segurar a ansiedade são condutas psicológicas importantes para superar melhor essa fase de adaptação.

A fim de comunicar os surfistas e profissionais da saúde em relação a esse tema, a equipe do SID desenvolveu um trabalho muito completo, no qual você encontra todas essas informações e muitas outras de forma completa e didática, com embasamento científico. Basta acessar o site Surf Injury Data e dar o download do guia, é gratuito. Vale muito a pena conferir!

Para manter-se saudável no surfe é preciso atenção, e dessa forma, vamos surfar mais e por mais tempo. Vamos superar essa fase e retornar a rotina da vida juntos.