Surfe e Medicina

O vazio preenchido

Dr. Guilherme Vieira Lima ressalta a importância de manter a mente saudável nos dias de quarentena.

Ausência de surfe também pode ser desastrosa para saúde.

Mês de maio. Mesmo já completado dois meses das suspensões dos campeonatos de surfe e da proibição da prática em diversos locais, muitas coisas ainda estão acontecendo. Além do problema financeiro que atinge todos os brasileiros e do medo da doença, a ausência de surfe também pode ser considerada uma potente causadora de desastres à saúde de qualquer praticante.

Não poder surfar, não se limita apenas à privação do prazer da sua prática. Mas também a suspensão de uma atividade cotidiana de diversas pessoas. Para muitos, o surfe é a única atividade física praticada. E esse sedentarismo forçado traz importantes consequências.

A ociosidade de atividade física, juntamente com o isolamento domiciliar, impacta também na saúde mental de todos, em especial, dos atletas profissionais. Esses que, além da privação do seu esporte, também não estão ganhando, perdendo ou sendo desafiados. Tal condição é essencial para a sobrevivência do “competidor”, e o vazio da disputa é um potencial gatilho de distúrbios psicológicos. Sem mencionar o impacto financeiro de patrocinadores e premiações.

A depressão por falta de competição é uma patologia frequente encontrada em muitos ex-atletas olímpicos. A busca por resultados, marcas a serem estabelecidas e até mesmo a notoriedade da fama fazem com que a rotina de um esportista profissional tenha um objetivo muito claro, e a ausência disso tudo gera um vácuo muito difícil de ser preenchido. Esse quadro psicológico também é encontrado nos recém-aposentados, que subitamente mudam a rotina frenética de trabalho para uma vida extremamente pacata.

As mudanças fisiológicas pelo estresse competitivo desencadeiam uma série alterações no corpo humano. Quando nos preparamos para um desafio, notamos alteração da frequência (cronotropismo) e força (inotropismo) cardíaca, além de aumento da frequência respiratória, exacerbação do estado de atenção e vigília, alteração do peristaltismo intestinal, dilatação das pupilas, dentre muitos outros fatores que não devem ser suspendidos subitamente. Por isso, um programa de “desmame” do ex-atleta profissional é extremamente importante na adequação a uma vida não competitiva.

No cenário atual, encontrar uma disputa se torna desafiador. Iniciativas geniais como a competição “Bico Branco”, idealizada por Leandro Dora e apadrinhada por muitos Tops da elite mundial, são campanhas que, além de promoverem um apoio financeiro, também trazem à tona o clima competitivo e despertam o ambiente de disputa saudável do esporte, amenizando um pouco a frustração das suspensões competitivas.

A coluna desse mês é uma reflexão sobre os desafios cotidianos que todos nós temos na vida “normal” e que hoje se resumem a incertezas, frustrações e preocupações. Por isso, devemos nos reinventar diariamente.

Para quem ainda não está surfando, mantenha o corpo ativo e busque alternativas de exercícios físicos domiciliares com orientações disponíveis em diversas plataformas digitais. Faça uma rotina de deveres diários e semanais com objetivos claros.

As atividades “chatas” também devem estar presentes na lista, para que o fim de semana reserve somente as coisas mais prazerosas. Se desafie nas tarefas mais simples do seu dia. Para se sentirem mais próximos do surfe, a internet é um prato cheio de pesquisas, leituras e vídeos.

Para os interessados em Saúde no Surfe, o SID (@surfinjurydata) promoverá, nos dias 28, 29 e 30 de maio, um evento online com os maiores expoentes do esporte e do ramo da saúde no surfe. Vale a pena conferir a programação (vagas limitadas).

Manter a mente saudável é imprescindível, mantenha ocupada com bons pensamentos e perceba que essa fase será muito mais produtiva do que você imagina.

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