Museu do Surfe de Santos

Rô e a fábrica dos sonhos

Conheça a história de Rosana Marques, que participou da construção de uma das primeiras fábricas de pranchas em São Paulo.

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A paradisíaca Guarujá (SP) dos anos 70 era o cenário perfeito para viver grandes descobertas e formar laços de amizade. Em 1974, Rosana Marques, a Rô, tinha 15 anos de idade quando conheceu Ana Maria Chiarella, irmã do Thyola e do Madinho. Foi com esse último que Rosana começou a namorar e a partir desse namoro as famílias se aproximaram.

Nessa época o Thyola e o Antonio Brito tinham a Moby Surfboards nas Astúrias. Em 1975 começou o negócio de fabricação de pranchas com a marca Lightining Bolt. A lendária marca foi apresentada pelo shaper havaiano Mark Jackola quando veio para o Brasil.

A antiga fábrica funcionou ao lado da casa de Rosana, na Barra Funda, em Pitangueiras, até o fim do contrato de locação do imóvel. Thyola então fez a proposta para mudar a fábrica para a casa dos pais de Rosana, na rua Brasil 276. Com a mudança, o gringo também passou a morar na casa da Rô. Ela lembra que a mãe, Maria Júlia Marques, impôs algumas regras e o havaiano levava tudo “de boa”. Para Rô, Jackola era um iluminado, um irmão mais velho. Barry Kanaiaupuni foi outro surfista que Rosana desfrutou da companhia, recebido com comemoração e um inesquecível churrasco feito pelo pai. E assim existiu a “Fábrica dos Sonhos”.

O pai, Affonso Marques, virou um surfista que nunca pegou onda, mas acabou surfando a cultura de praia. Ele sempre gostou do mar, da pesca e viveu com intensidade aquela transformação na vida da família. A fábrica atendia aos surfistas paulistanos, um grande público frequentador do Canto do Maluf, do Monduba e também das distantes praias do Sítio do Iporanga e de São Pedro, ainda selvagens e com acesso precário. Faziam parte da turma Carlos Motta, Sidão, Egas, Luciano Fligliolla, Alex Dumont, Paulo Zanoto, Zezinho, Magoo, Madinho, Quincas, Walter, Ronny, Alfio, Fico, Garça, Reinaldo Andraus, o famoso shaper carioca Ricardo Wanderbill, além dos locais, Jaime Daige Junior, Boi, Pardal, Udo, Guaracy, Ricardo Holley, Ramiro, Paulo Tendas, Coquinho, entre outros.

O clima ainda era de inocência, numa época de muita criatividade e imaginação. Dona Júlia “do Fórum”, como era conhecida a mãe da Rô, conseguia as autorizações para passar filmes de surfe no salão do antigo Cassino e assim juntar a galera. A estrutura era simples e até o lençol de casa servia como tela para exibir as películas encomendadas pelo Sidão Tenucci da OP Surfwear.

Rosana fez parte de uma geração de meninas surfistas, entre elas Zuleika e Nanci Carbone. Inicialmente Rosana surfava de pranchão e de kneeboard até descobrir o bodyboard e trazer um Morey Boogie na bagagem de volta de uma viagem da Califórnia, ainda em 1982, quando a modalidade era desconhecida pelos brasileiros.

A antiga fábrica continua viva nos sonhos e na memória dos surfistas que fizeram história no Guarujá.