Museu do Surfe de Santos

Paulo Preguiça, um pioneiro

Conheça a história de Paulo Preguiça, um dos pioneiros do surfe no Rio de Janeiro.

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Paulo Roberto Tate nasceu no dia 4 de abril de 1930. Preguiçoso, ganhou o apelido que o acompanharia pela vida inteira. Paulo Preguiça viveu na rua Francisco Otaviano, próximo ao Forte de Copacabana, no caminho para as praias de Ipanema e Arpoador. Seu primeiro emprego foi na TV Rio, onde exerceu a função de câmera man. O amigo Anjo tirou o Preguiça da praia para o trabalho.

Desde que era moleque, Preguiça pegava onda de peito. Ninguém conhecia pranchas no início da década de 1940. Ele usava um pé de pato e se atirava sobre as ondas do canto do Arpoador. Agarrada no seu pescoço, muitas vezes, descia a sua filha mais velha, Cleane Lúcia Neves Tate, sentindo o perigo e a adrenalina nas ondas que arrebentavam perto das pedras.

Frequentador do Cassino Atlântico, a sua praia era o asfalto, onde tirava uma onda de moto pelo entorno do Arpoador. Porém foi no mar que ele virou lenda. Um pouco mais velho que o restante da garotada, Paulo só entrava no mar em dias de ondas grandes e foi o primeiro a ser visto de pé sobre uma tábua de madeira, popularmente chamada de “porta de igreja”, pelo seu formato retangular, sem curvatura ou quilhas.

A imagem de um homem descendo uma onda de pé sobre uma tábua tosca de madeira ficou grudada na retina de Jorge Paulo Lemann, Gilberto Laport, Arduíno Colassanti, entre outros garotos que estavam na praia. Até aquele ano de 1954, eles só tinham visto surfistas sobre pranchas modernas nas revistas gringas. Paulo ainda iria protagonizar uma acrobacia sobre a tábua de madeira. Tempos depois ele foi visto descendo uma onda de pé com uma garota sobre os ombros.

Na década de 1950 o ritmo de vida dos cariocas do Arpoador era definido pelas condições do mar e do vento. Muitos eram praticantes da pesca submarina e formavam na turma do Clube dos Marimbás. Um dos integrantes, o mergulhador e engenheiro Luiz Carlos Vital, o Bisão, empolgado com o surfe, resolveu fabricar pranchas melhores. Com ele, a tábua de compensado ganhou forma, bico envergado e uma régua longa que servia de quilha.

Antes da novidade, Bisão, ao lado de um professor de arquitetura e dos amigos do mergulho e da pesca, George Grande, Bruno Hermany, Abel Gazio, Luiz “Louro” ousou construir uma tábua oca estilo Tom Blake. A nave foi apelidada de DC-4, em homenagem ao famoso avião usado na Segunda Guerra, mas o sucesso nos ares não se repetiu dentro d’água.

O salto viria mesmo com as pranchas de madeirite. Bisão resolveu presentear os amigos Gilberto Laport, Arduíno Colassanti, Paulo Bebiano e Jorge Paulo Lemann com o novo invento. Eles eram os destaques no primórdio do surfe carioca e se tornariam os “donos” do Pontão do Arpoador. Porém o grande ícone dessa geração foi mesmo Paulo Preguiça. Segundo Lemann, aquele homem com os braços abertos deslizando sobre as águas parecia o próprio Cristo Redentor.