Leitura de Onda

Inverno a toda potência

Tulio Brandão fala sobre as emoções da temporada havaiana e a expectativa para Pipeline bombar na grande decisão do Championship Tour.

Jordy Smith aproveita a perfeição de Pipeline.

O arquipélago havaiano ferve em pleno inverno. As ondulações se sucedem em todos os picos e, antes mesmo do aguardado dezembro, a pilha de momentos históricos superava a de alguns outros invernos.

Em Pipeline, para alegria dos que rezam pela volta da gloriosa esquerda aos holofotes na decisão do CT, os largos cilindros se sucedem. Dias atrás, um robusto swell de Noroeste, além da atiçar um crowd histórico, passou a vassoura na bancada.

Diz o amigo Paulo Barcellos, um dos melhores fotógrafos do line-up, tuberider acurado e ex-campeão mundial de bodyboard, que a máquina parece longe de parar. Se o fundo está ajeitado para Pipe? “Muito. A temporada está muito boa. Tem mais um swell este sábado (1/12) e outro grande previsto para a próxima semana. A última ondulação (dias atrás) limpou tudo, pelo que eu vi. O o próximo swell também é de Noroeste. Ou seja, vai continuar limpando a bancada”, aposta o craque.

Waimea Bay no início da semana.

O provavelmente renovado salão de Pipe será palco de uma festa histórica a partir do próximo dia 8, com uma disputa de título mundial entre três surfistas no topo da forma, com habilidades e virtudes às vezes distintas, às vezes semelhantes, às vezes complementares. Se o esporte prevalecer, não importa o resultado, será um espetáculo memorável, sério candidato a entrar os almanaques do surfe competitivo.

Dias atrás, a usina de ventos do Pacífico apontou seu canhão para Peahi, em Maui, onde foi realizada a segunda etapa do circuito mundial de ondas grandes. Depois de um dia enorme, de magníficas montanhas d’água, em que a WSL, por uma questionável atitude preventiva, resolveu adiar o evento, os caçadores de monstros foram de lycra para a água.

Billy Kemper venceu mais uma vez, mas foi Kai Lenny o grande nome dos dois dias de bombas em Jaws. O waterman havaiano, ao lado do brasileiro Lucas “Chumbinho” Chianca, deu sequência à saborosa disrupção no modo de surfar ondas gigantes. Lembra, pela enorme quebra de paradigma no esporte, a saga de “Bustin down the door”. O floater que Lenny deu na véspera do evento, viral na internet, é imagem obrigatória para quem por acaso não teve a sorte de conferir.

Lucas Chumbo em Jaws, Havaí.WSL / Hallman
Lucas Chumbo em Jaws, Havaí.

Chumbinho parou na semifinal porque pecou ao insistir nas esquerdas. A WSL prefere as direitas – seja em Peahi, em Trestles ou em Margaret River. Na final, Lenny foi mais uma vez o mais contundente e preciso, mas, no critério da entidade, deu Kemper.

Há ainda os resultados em andamento da Tríplice Coroa Havaiana, com uma etapa realizada, outra em andamento e novidades brasileiras na elite de 2019, como Deivid Silva e Peterson Crisanto. Sunset promete trazer ainda mais novidades.

Por último, mas não menos importante, temos a volta da janela do In Memory of Eddie Aikau, depois de uma ausência forçada com o fim do patrocínio da Quiksilver. A Fundação Eddie Aikau entendeu a importância de seu histórico evento, correu atrás de patrocinadores locais, como Kamehameha Schools, Office of Hawaiian Affairs e Waimea Valley para retomar a liturgia e a tradição do evento. Entre os convidados deste ano, estão dois brasileiros: Chumbinho e Danilo Couto. Carlos Burle, Rodrigo Koxa, Yuri Soledade e Pedro Scooby aparecem como alternates.

Será um Eddie Aikau mais “roots” e apegado aos valores essenciais do esporte, num momento em que a gestão do surfe competitivo, de um modo geral, cambaleia sem identidade e rumo. A cerimônia foi realizada na última quinta e, na ilha, correm rumores de que o evento pode ser realizado nos próximos dias, com a chegada do próximo swell massivo previsto para as ilhas. Desde que o evento surgiu, há mais de 30 anos, foram realizadas apenas nove edições, por conta das condições especiais das ondas exigidas pelos organizadores para colocar o show na água.

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