Covid-19

Contaminação pelo mar?

Dr. Marcelo Baboghluian esclarece as dúvidas sobre o risco de transmissão do coronavírus pelo mar.

The Rock, Guarujá (SP)

Ainda não há nenhuma base científica para a teoria de que a água do mar seja um ambiente mais propício para a propagação do vírus.

Durante o dia de hoje, provavelmente todo grupo de surfista no Brasil recebeu uma mensagem encaminhada falando sobre o aumento do risco de contaminação dos surfistas durante o surfe pelo Covid-19 de acordo com eventuais achados por médicos de Florianópolis. O objetivo dessa nota é ajudar a esclarecer a comunidade do surfe sobre o que há de evidência científica sobre o Covid-19 e eventual aumento do risco por ser surfista ou pelo surfe.

O que se sabe atualmente sobre o risco de transmissão do Covid-19 ainda não está totalmente estabelecido. A investigação epidemiológica em Wuhan, na China, no início do surto identificou uma associação inicial com um mercado de frutos do mar que vendia animais vivos, onde a maioria dos pacientes havia trabalhado ou visitado. No entanto, à medida que o surto progredia, a propagação de pessoa para pessoa tornou-se o principal modo de transmissão.

Atualmente, o que vêm sendo comprovado é que a propagação do COVID-19 ocorre principalmente através de gotículas respiratórias, assemelhando-se à propagação da gripe. Com a transmissão de gotículas, o vírus liberado nas secreções respiratórias quando uma pessoa com infecção tosse, espirra ou fala, e pode infectar outra pessoa se fizer contato direto com as mucosas; infecção também pode ocorrer se uma pessoa tocar uma superfície infectada e, em seguida, tocar seus olhos, nariz ou boca.

Inicialmente, é estabelecido que as gotículas normalmente não viajam mais de dois metros e não permanecem no ar, apesar de ter sido publicado ontem mesmo que, em condições experimentais, o vírus permaneceu viável em aerossóis por pelo menos três horas. É sempre importante reforçar que, devido a incerteza atual em relação aos mecanismos de transmissão, as precauções de vias aéreas são altamente recomendadas.

O período de incubação (tempo entre ser infectado e apresentar os sintomas) pode chegar a 14 dias após a exposição, mas na maioria dos casos tem sido de 4 a 5 dias. Como é sempre bom reforçar, os principais sintomas manifestados por um indivíduo com o Covid-19 são: febre, fadiga, tosse seca, perda de fome, mialgia (dor no corpo) e falta de ar. Entretanto, menos de 30% dos indivíduos infectados chegam a apresentar algum sintoma.

Esse longo período de incubação e a maior parte dos infectados não apresentando sintomas, acredita-se que é mais provável que a transmissão ocorra no estágio inicial da infecção, mas dados adicionais são necessários.

Não há nenhuma base científica, até o momento, para a teoria de que a água ou água do mar seja um ambiente mais propício para a propagação do vírus. O que vem sendo publicado é que o clima de um modo geral (temperatura e umidade) pode ter um papel na propagação do Covid-19. Condições frias e secas são mais propícias do que as condições frias sozinhas para a sobrevivência do vírus, mas tem sido demonstrado que a temperatura ainda é o fator mais importante. Além de fornecer condições propícias para a sobrevivência e disseminação do vírus, as condições frias de inverno também tendem a diminuir a imunidade dos seres humanos.

Por outro lado, há evidência científica que relacione a prática de atividade física como um fator de prevenção às formas mais graves do Covid-19, desde que não sejam atividades físicas muito extenuantes (como surfe prolongado), uma vez que essas também podem influenciar e debilitar a imunidade.

Por isso, o SID reforça que, até o momento, não há evidência científica que comprove que há um risco aumentado de infecção pelo Covid-19 durante o surfe, mas a circulação nas ruas de um modo geral, aglomeração de pessoas e contato de mucosas com gotículas de indivíduos contaminados devem ser evitadas ao máximo.

A questão da proibição do surfe em alguns países da Europa está relacionado proibição de aglomeração em praias, e não ao surfe em si como fator de risco de transmissão.

A orientação é isolamento social, pouco contato entre as pessoas. Pratique atividade física sim, de preferência em casa. Seja um exemplo para outras pessoas, você está de quarentena, não de férias.

Mais informações: @surfinjurydata (SID)

Equipe SID: Dr. Marcelo Baboghluian
Dr. Guilherme Vieira Lima
Dr. Pedro Luiz Guimarães

Referências Bibliográficas:

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