Surf & Aventura

Caminhos para Tóquio

Alex Gutenberg questiona os próximos passos do surfe nas Olimpíadas.

Adriano de Souza e Gabriel Medina representariam o Brasil nas Olimpíadas se os classificados fossem definidos nesta temporada.

Estou de volta. Fiquei quatro meses viajando pelo mundo. Depois vou contar as histórias. Mas como me foi concedido esse espaço aqui, um privilégio e tanto, vamos debater assuntos importantes. Vamos debater e discutir, preparem-se para as polêmicas.

Não vou falar (ainda) do circuito mundial da WSL e do título de John John Florence em 2017, e nem dos juízes que me parecem mais uma caterva.

Antes, é importante comentar sobre o que está acontecendo em relação ao rflirrfe nas Olimpíadas. Em dezembro, WSL e ISA chegaram a um acordo sobre o qualifying. Ou seja, como será o processo de avaliação para se chegar aos 40 atletas (20 homens e 20 mulheres) que disputarão os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020.

Estamos a menos de três anos do evento e já estava na hora de começarem a pensar sobre isso. Para dizer a verdade, estou mais preocupado com os critérios de julgamento e com a “pista” que será usada nos Jogos. Será numa das merrecas perto de Tóquio? Ou o Comitê Olímpico do Japão vai construir uma mega piscina igual ao Surf Ranch de Kelly Slater?

Primeiro, vejamos o que foi decidido. Em uma reunião não anunciada, WSL e ISA resolveram o seguinte: para as 40 vagas das Olimpíadas de Tóquio (20 homens e 20 mulheres), 18 surfistas sairão do ranking final de 2019 da WSL (dez homens e oito mulheres). Outros 22 surfistas serão escolhidos pela ISA. Sendo que, entre esses 22, dois serão os campeões dos Jogos Pan-Americanos de Lima em 2019 (um masculino e um feminino) e dois serão convidados do país-sede, o Japão.

Critérios de julgamento ainda não foram esclarecidos pela WSL ou ISA.

O site Surfline resumiu bem legal da seguinte maneira:

Masculino

– Os dez surfistas mais bem ranqueados da WSL em 2019.
– Quatro finalistas do World Surfing Games de 2019 (ISA).
– Quatro finalistas do World Surfing Games de 2020 (ISA).
– Vencedor dos Jogos Pan-Americanos de Lima em 2019 (WSL e ISA).
– Uma vaga para o Japão, país-sede.

Feminino

– As oito surfistas mais bem ranqueadas da WSL em 2019.
– Cinco finalistas do World Surfing Games de 2019 (ISA).
– Cinco finalistas do World Surfing Games de 2020 (ISA).
– Vencedora dos Jogos Pan-Americanos de 2019 em Lima.
– Uma vaga para o pais-sede, Japão.

Achei bacana isso, muito bem escolhido. Mas tem algumas pegadinhas, sem maldade, que devem ser esclarecidas.

Cada país só pode mandar dois atletas para a Olimpíadas de uma mesma modalidade. Portanto, o ranking de dez primeiros colocados da WSL em 2019 não serão, necessariamente, os dez primeiros.

Por exemplo, se fossem escolhidos os atletas do ranking de 2017 iriam para as Olimpíadas John John Florence e Kolohe Andino representado os EUA. Gabriel Medina e Adriano de Souza representando o Brasil. Julian Wilson e Matt Wilkinson representando a Austrália. Jordy Smith representando a África do Sul, Jeremy Flores a França, Frederico Morais Portugal e Kanoa Igarashi (que tem passaporte japonês também) representando o Japão. O resto iria ver pela televisão.

Mas existe outra pegadinha. E se, por exemplo, entre os escolhidos da ISA, no Mundial de 2019 o vencedor for um brasileiro? Como ficaria? Afinal Medina e Mineirinho já estão classificados pela WSL. Esse é um problema sério. Qual Associação iria prevalecer? Manda os dois brazucas da WSL ou manda um da WSL e o outro que venceu o Mundial da ISA? É óbvio que cada país quer enviar o seu melhor atleta às Olimpíadas e nesse caso Mineirinho e Medina são muito mais experientes do que o jovem vencedor do ISA World Games. Como é que fica?

ISA e WSL ainda devem decidir sobre o assunto nos próximos meses.

Mas o que eu estou preocupado mesmo é com o critério de julgamento. As duas organizações mundiais que controlam o surfe já preparam um livro de regras olímpico? Já começaram a treinar juízes para o evento? Parece que vai acontecer no mar mesmo, pois o Comitê Olímpico Japonês cortou mais de US$ 3 bilhões do orçamento geral para diminuir os custos do evento. Não acredito em piscina olímpica para surfe.

Local onde o surfe será disputado é motivo para preocupação.

Acho que deveriam mandar uma equipe para o local, a praia inteira do evento, filmar por dias, meses, as diversas condições de mar, filmar em 2018 e 2019 nos mesmos dias da Olimpíada de 2020, e começar a mostrar para juízes, head judges e todos os envolvidos.

Se em esportes onde o profissionalismo é mais antigo e mais experiente como Ginástica Olímpica, cujo julgamento é subjetivo também, acontecem dezenas de confusões, notas reavaliadas, brigas, discussões, eliminações, imagine no surfe?

Em tempo – sou declaradamente contra o surfe em Olimpíadas. Acho isso uma aberração. Já estive trabalhando em algumas delas, 1984, 1988, 1992 e 1996 e sei o que estou falando. O evento é marketing puro, dinheiro rolando pra todos os lados, corrupção forte, compra de tudo – juízes, membros que escolhem as cidades, atletas super patrocinados, drogas à vontade. Não gostaria de ver o surfe nesse meio. Mas esse será um novo debate.

Notas

– Parabéns ao Gabriel Medina pelo vice-campeonato de 2017. Foi difícil, mas ele mandou bem nas ultimas três etapas.

– Filipe Toledo deveria ser melhor reconhecido pela WSL e pelo prêmio da revista Surfer pelo que fez em 2017. Passou despercebido e nem mencionaram Jeffrey’s Bay. Triste isso. Filipe, no mínimo, deveria ser escolhido como a melhor onda surfada do ano – dois aéreos na mesma.

– Aliás a premiação dos melhores do ano da Surfer ignorou os brasileiros. É guerra.

– Muito legal Ian Gouveia, ao lado de Kelly Slater, ser o wildcard oficial de 2018. Merecido.

– Pela primeira vez na história do circuito mundial teremos mais brasileiros do que australianos. Serão onze brasileiros contra oito australianos, seis americanos, quatro havaianos, um sul-africano, um português, um polinésio e dois franceses. Muito legal a nova turma.

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