Volume e remada

A tal da litragem

Edinho Leite explica a relação entre litragem e remada em um shape.

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As pranchas de Gabriel Medina, DFK, DFK+ e The Medina, tem um outline paralelo, mais área no bico e pouco curva de fundo. São máquinas de remada, mas se você abusar do volume não vai conseguir fazer a curva.

A tal da litragem parece ter criado conceitos equivocados quanto ao volume correto que cada surfista deve usar em suas pranchas para que elas remem bem. Sim, a litragem, ou a flutuação da prancha influenciam na remada.

Porém, há outras características de um shape que fazem com que você tenha uma remada melhor ou pior. Arrume um bloco de EPS, quadrado, com muita, muita litragem. Você vai constatar que, apesar de todo o volume, o treco sem forma rema muito mal.

Vamos por partes, só para citar alguns exemplos. 
A distribuição da flutuação, o tal do foil, determina bastante o poder de remada de uma prancha. Assim, se sua prancha tem flutuação muito parecida na rabeta, meio e bico, ela não é feita para te dar mais remada, se comparada a uma prancha que tenha o maior volume jogado mais à frente, deixando a rabeta mais fina e o bico um pouco mais grosso.

John Florence assombrou o mundo com a Ghost. O modelo chamou atenção por lembrar conceitos das pranchas dos anos 70, com bico mais largo e mais volume na área do peito.

Quando você rema a maior parte do seu peso, que você tem que deslocar na remada, está na área do tórax, por isso pranchas com flutuação mais deslocada para essa parte da prancha, onde você apoia o peito, tendem a remar melhor.

A Cymatic, do Tomo, tem várias das características que garantem uma boa remada. O que muitas vezes nos escapa é que Slater não as usa tão leves. Adivinha? Compare com uma bicicleta de alumínio e uma de ferro, na ladeira.

O mesmo se aplica à largura. As pranchas modernas diminuíram de tamanho e, por isso mesmo, a área mais larga passou a ser um pouco mais à frente do que usávamos há alguns anos. Quanto mais paralelo for o outline, contanto que tenha uma largura mínima, melhor a prancha vai remar. Veja o caso das Mini Simmons.

O rocker, envergadura ou curva do fundo, também entra no jogo. Quanto menos curva houver no fundo da prancha menos resistência ela oferecerá na remada. Além disso, o tipo de fundo também exerce influência no quesito remada. Um fundo concave ou flat rema melhor do que um fundo abaulado ou V-Bottom, se bem que esses dois últimos só aparecem mais nas retrô.

Outro fator que determina uma boa remada é o peso. Pranchas pesadas dão mais trabalho para saírem da inércia, no entanto elas tendem a manter a velocidade. Esse é um dos motivos, além da flutuabilidade, que faz com que pranchas de PU, normalmente, remem melhor do que as de EPS. As pranchas de EPS tendem a parar assim que você para de remar, não mantendo a inércia. O peso também ajuda quando a prancha começa a sofrer os efeitos da gravidade, descendo a onda.

A curva do fundo, desde o rocker de entrada, no bico, até o de saída, na rabeta, determina muito da remada.

Esses são apenas exemplos de características que ajudam ou atrapalham a remada. Claro, há muito mais, como tamanho e proporções da prancha e surfista, tipo de prancha. Você não pode esperar que uma alaia reme como uma fish, que remará menos do que um longboard.

As pequenas Mini Simmons, retas, de outline paralelo e muito volume remam quase como um longboard.

Cabe aqui algumas observações…

Sua remada determina a quantidade e qualidade das ondas que você vai surfar. Treine para isso.

Quando remar procure deixar o queixo mais próximo do deck da prancha e o bico da mesma o mais baixo possível, levantando-o só para não embicar.
 Sentiu que está ficando para trás? Levante os pés, bata na água como se estivesse nadando, se sua prancha tiver um tamanho que permita isso. Assim você ajuda a tirar a rabeta de dentro d’água, minimizando arrasto.

Claro, ninguém quer uma prancha que dê trabalho para remar e fique afundada. Mas, lembre-se, quando você faz bodysurf não há flutuação além do seu próprio corpo e, mesmo assim, você entra na onda. Portanto, quando você não entra numa onda não é falta de “litros na prancha” e sim de se colocar no lugar certo para dropar.

O modelo Ghost, de Pyzel, tem alta performance, inclusive na remada, potencializada pelo volume e largura mais deslocados para o bico da prancha

Aliás, fazer bodysurf ajuda muito a pegar ondas com pranchas. Por falar nisso, com ou sem prancha, encher os pulmões ajuda na remada.