Dream Tour

A prancha certa

John John Florence, Pipeline, Hawaii

 

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John John Florence, Pipeline, Hawaii Foto: © WSL / Cestari
 

Hoje, a grande maioria das pranchas tem quase a mesma cara quando o assunto é surf de alto desempenho. De uns dois anos para cá elas ganharam mais área (largura), especialmente no bico, e mais volume, tudo para acomodar o que antes era uma 6’ ou 6’2” em uma 5’8” ou 5’11”, para dar um parâmetro. A pouca variação de tamanho permanece mesmo quando o mar sobe. O que muda é a distribuição do volume pelo foil e outline. Michel Bourez tem um quiver completo e, fora as pranchas para ondas como Sunset, são todas 5’11” ou 6”. “Para mim tem funcionado assim, mudo os detalhes, distribuição de volume, curva do fundo… Mas são todas basicamente do mesmo tamanho”, diz o taitiano. Ou seja, os detalhes estão mandando nos quivers com formação para cinco quilhas (podendo ser quatro ou três). Gabriel Medina tem usado pranchas com quase 19” de largura ou até mais, porém a média fica entre os 18 1/4 e 18 5/8.

ATÉ A ÚLTIMA PONTA

A largura do bico das pranchas atuais, com mais área, tem um propósito. Já viu até onde os caras passam parafina? Pois é, a volta dos aéreos e outras manobras que invertem a prancha de direção criou a necessidade de uma área em que você possa se apoiar e aguentar o peso do corpo, mesmo que as quilhas estejam do lado contrário. Quanto à construção, os Tops são bem convencionais. Pouco mudou, fora a “novidade” de faixas de fibra de carbono e outros materiais no fundo das pranchas, em diferentes configurações de colocação. A maioria utiliza espuma de poliuretano laminada com resina de poliéster. Outras espumas, como EPS, começam a tomar força entre as estrelas do Tour e a resina epóxi tem sido utilizada com PU (poliuretano), mas só para alguns tipos de ondas. Cada uma das ondas do Tour tem características diferentes e pode variar como qualquer outro pico do mundo, mas vamos pensar no melhor que elas podem oferecer a partir de suas características principais.

AUSTRÁLIA – SNAPPER ROCKS

Direitas longas que variam de velocidade conforme a seção, algumas bem tubulares. Não passam muito de 6 pés. “Merrequeira Rápida” em ação. Segundo Johnny Cabianca, a prancha deve ser versátil para se adaptar às diferentes seções da onda. “Tento usar os componentes de uma prancha para beach break. Flat rocker, concave suave, v-bottom light embaixo do pé de trás.” Retinha, com rocker acentuado na rabeta para arcos mais fechados. A prancha pode ter volume nos dias menores, inclusive na rabeta, mas as bordas devem ser finas. No caso do Medina a rabeta é swallow, mas poderia ser squash. Algo que faça o outline da rabeta ficar mais esticado.

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Gabriel Medina, Quiksilver Pro Gold Coast. Foto: © WSL / Kirstin Scholtz
 

 

AUSTRÁLIA – MARGARET RIVER

Ondas de mar aberto, com muita energia e volume. Paredes longas e irregulares de 6 a 8 pés, terral forte. Uma onda não convencional, difícil, pede pranchas fora do comum, porém, sem complicação. Round pin. Outline um pouco mais paralelo, sem medo de largura ou flutuação extra. Concave suave do meio para trás, com double concave entre as quilhas para melhor controle e troca de bordas mais fácil. Rocker do bico mais acentuado e menos na rabeta para proporcionar curvas mais longas. Este ano Kelly usou 5’11”, o que pode ser uma pista, já que ele costuma usar, quase em todos os picos, 5’9”. As ondas são volumosas, longas, assim como a remada, por isso pedem mais volume distribuído da frente das quilhas (três) em diante, especialmente a partir do meio. Uma prancha maior vai bem. Construção: PU/poliéster, com peso normal para um pouco mais pesadas. 

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Kelly Slater, Margaret River, Austrália. Foto: WSL / Cestari
 

 

AUSTRÁLIA – BELLS
Leitura difícil. Paredes longas, com seções rápidas e outras mais cheias na base ficando íngremes perto do lip. De 6 a 8 pés, terral forte. Curvas longas e adaptação aos contornos das ondas são a chave. “Pranchas simples. Sutis. Sem muito concave. Rocker suave, especialmente na rabeta, que pode ser round squash”, explica o criador das triquilhas Simon Anderson. Veja as pranchas do Fanning, feitas pela DHD. Ele usa mais rocker na rabeta, mas ele pode. Joel Parkinson vai mais no padrão. Bordas um pouco mais cheias em suas JS. As ondas são longas, com muitas seções, e você precisa fazer curvas extensas, por isso o outline é um pouco mais esticado, sem tanta largura no bico ou rabeta, onde ganha mais curva para estreitar a parte final da prancha. Nada de edge acentuado à frente das quilhas para não enganchar lá em cima. Single para double concave. Em dias acima de 6 pés a prancha pode ter um pesinho extra.

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Joel Parkinson, Rip Curl Pro Bells Beach. Foto: © WSL / Kirstin Scholtz
 

 

BRASIL – BARRA DA TIJUCA
Beach break pesado, rápido, cavado e cheio de surpresas. Tendência a fechar no final da onda de extensão média nos dias bons. O modelo Lampião, desenvolvido por Ricardo Martins (Wetworks) e pilotado por Jadson Andre é uma ótima opção. “A prancha é superveloz e furiosa, uma máquina de manobras e aéreos, o terror das ondas de beach break”, diz a descrição da mesma. Tem bordas finas e macias, com rocker de rabeta mais acentuado justamente para voar fácil e mudar de direção num piscar de olhos com a ajuda do outline mais parabólico. A rabeta, estreita, garante o controle das manobras. Esse modelo vem sendo modificado nos detalhes e parece muito funcional nos beach breaks. É uma 5’ 11”, round squash, 18 ¼ x 2 ¼. Leve, feita em PU/poliéster.

 

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Taj Burrow, Billabong Rio Pro 2014, Barra da Tijuca (RJ). Foto: Iaponã / Neuronha
 

FIJI
Expresso tubular tipo videogame. Às vezes apresenta bumps transversais na parede. Na verdade há duas ondas espetaculares que pedem pranchas diferentes. Segundo CJ Hobgood, “por maior que Restaurants role, todo mundo acaba usando a prancha básica quando o assunto é altura (em torno de 5’8” a 5’11”). O drop não é difícil e você não vai querer algo muito longo sob seus pés quando precisar acelerar dentro dos tubos. Talvez umas quilhas maiores e mais inclinadas para trás para os dias maiores”. Lembre-se, concave suave, pois velocidade a onda já terá de sobra. Não exagerar no volume, pranchas mais finas funcionam bem ali. Round pin. Uma quadriquilha pode ir bem. Construção: epóxi/PU ou EPS. Cloudbreak é outra história. Há muita água se movendo, muita energia. O terral pode ser forte e te segurar lá em cima. Em dias com até 6 pés de ondas as pranchas ganham apenas alguns “inches”, em dias acima de 8 pés podem ter mais, tipo 6’2” até 6’4”, além de mais volume, contanto que não seja na rabeta, pois essa deve ficar enterrada na água. Edge mais acentuado prolongado até um pouco mais à frente das quilhas ajuda a acelerar e manter a linha. Double concave na rabeta ajuda no controle e mudança de direção dentro dos canudos. Para dias maiores adicione até um v-bottom. Construção: poliéster/PU.

 
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CJ Hobgood, Tavarua, Fiji. Foto: Joli
 

 

ÁFRICA DO SUL – J-BAY
Direita longa, paredes amplas. Veloz com tubos pelo caminho, na parte superior da onda. Muito terral, estrias e falta de conhecimento da bancada dificultam a vida de qualquer mortal. Como disse o campeão mundial de 1977 Shaun Tomson: “Surfar Jeffreys é fácil, o difícil é surfar bem”. Tomson também falou sobre tamanho: “Pranchas maiores garantem embalo e possibilitam que você mantenha sua linha alta dentro dos tubos. Há muita parede à sua frente e você precisa fazer curvas longas. Uma round pin ajuda a manter a borda na água por mais tempo e desenhar manobras mais conectadas umas às outras”. Jon Pyzel concorda, e acrescenta: “Mantenha o outline mais estreito, isso ajuda na transição de uma borda à outra. Mais volume também resolve o problema das longas remadas, tipo 1/8 ou até 1/4 a mais, e mantém o embalo na parede depois da curva na base”. Vide Tom Curren, que este ano fez uma nota 10 com uma round pin, estreita e alongada. Pranchas leves se perdem nas longas curvas e sofrem o efeito do terral forte. Use alguns inches a mais no tamanho da prancha. Não abuse dos concaves. A onda já te dá velocidade e você precisa controle. PU/poliéster.

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Tom Curren, Jeffreys Bay, África do Sul. Foto: © WSL / Kirstin Scholtz
 

 

TAHITI – TEAHUPOO
Esquerda sinistra e drop vertical. Pesada, mesmo com 6 pés. Ter remada para dropar antes de ser arremessado. Manter a linha lá dentro, esse é o segredo. Se deixar a prancha subir um pouco na parede precisa ser Slater para realinhar sua trajetória sem ser sugado para o alto e arremessado na rasa bancada. A prancha deve ter edge acentuado só na rabeta. Double concave com “v” entre as quilhas. Um pouco a mais de 2 1/2 de rocker na rabeta para aliviar a pressão no drop. Algo com 2” ou 3” polegadas a mais no tamanho assim como 1/8 de polegada a mais na flutuação. Foil suave, afinando bico e rabeta. Bordas mais arredondadas no bico, estreito. Ok, o Medina não usou nada disso, mas você não é o Medina! Surfistas como Bruno Santos ou Victor Bernardo preferem pranchas menores, pois essas se encaixam melhor na curva da onda e proporcionam mais maleabilidade para acelerar dentro dos tubos.

 

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Adrian Buchan Billabong Pro Tahiti 2014, Teahupoo. Foto: © WSL / Will Hayden-Smith
 

 

EUA – TRESTLES
Esquerdas e direitas, drop fácil, paredes extensas de fácil leitura. Ótimas para todo tipo de manobra, contanto que você mantenha a fluidez. 4 a 6 pés, lisas. Matt “Mayhem” Biolos dá as dicas. “Lowers é basicamente uma onda que você pode surfar como um beach break, só que perfeita. Há energia suficiente para que se faça tudo o que imaginar. Uma pista. O segredo é manter a velocidade. Uma rabeta mais larga vai bem, squash ou round squash.” Isso facilita voar. Aliás, a prancha toda pode ganhar alguma largura, especialmente no bico. Pense numa prancha, no mínimo, menor do que você. “As bordas podem ser mais cheias, arredondadas, com um rocker mais suave (pouca curva) para se encaixar nas curvas também suaves das ondas”, explica o shaper. Pranchas com até 3 polegadas a menos que o normal. Full concave, sem medo. Para surfistas que pesam no pé de trás, Mayhem costuma colocar um pouco mais de rocker no bico, deixando a rabeta com menos. Isso facilita a volta de manobras com as bordas cravadas na água. A variante é deixar o rocker mais suave no bico e levantar a rabeta, para inverter a direção da prancha mais rapidamente, dar aquela escorregada chutando a rabeta. Construção? EPS/epóxi ou mesmo PU, bem leve. 

 

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Kolohe Andino, Hurley Pro em Lowers Trestles, 2014. Foto: WSL / Rowland
 

 

FRANÇA – HOSSEGOR
La Graviere, o pico mais famoso da área, tem uma onda cavada, rápida e potente. A correnteza pode ser um inferno, especialmente se corre na direção contrária do lado que você quer surfar. O beach break francês pede pranchas um pouco mais seguras. Segundo Darren Handley, “um rocker um pouco mais acentuado e double concave na rabeta podem facilitar o controle. Uma prancha flat será muito veloz, mas não haverá tanto controle. O outline deve ter mais curva, mesmo mantendo uma certa largura no bico e entre as quilhas, mas a rabeta pode ser mais estreita do que as pranchas de Trestles”. Com 6 pés você pode usar o tamanho de prancha do dia a dia. PU/poliéster.

 

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Mick Fanning, Quiksilver Pro France. Foto: © WSL / Kirstin Scholtz
 

 

PORTUGAL – SUPERTUBOS
Beach break que funciona para os dois lados com ondas potentes. Nos dias clássicos pode ser chamada de “Pipeline portuguesa”. Drop rápido, caminho um tanto imprevisível até a baforada final por conta das fortes correntes que estão sempre por ali. Mesmo Tiago Pires, conhecedor do pico, um sujeito que não inventa muito e surfa mais parecido com gente normal, usava 5’11” x 18’ 3/16 x 2’ 3/16 e agora está de 5’10” x 18’ 1/4 x 2’ 3/16 e até 5’9” x 18’ 3/8 x 2’ 3/16 do mesmo modelo. Ou seja, pranchas menores, com um pouco mais de rocker para se encaixar na curvatura dos tubos, com aquele round tipo thumb tails, estreito no final, sem perder largura entre as quilhas. “Outline sem quebras. Single concave do meio para trás, para segurar melhor e dar velocidade nas paredes. Só na área atrás da última quilha ela é flat para deixar um pouco mais solta e maleável nas curvas. Set-up de cinco quilhas, pois pode funcionar bem como tri ou quadri. Leve, mas resistente, feita com PU/poliéster.

 

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Owen Wright, Peniche, Portugal. Foto: © WSL / Kirstin Scholtz
 

 

HAWAII – PIPELINE
O tubo mais cultuado do mundo. Drop cavernoso, onda violenta com imenso tubo “transformer” que pede realinhamento em vários momentos. Você precisa de uma prancha segura que reme bem, mas a flutuação deve se concentrar no meio dela, nunca no bico ou rabeta, pin ou round pin. “O volume deve ficar na altura dos ombros, pois volume na rabeta atrapalharia sua linha na onda. A terça parte traseira é onde o foil fica mais afunilado, com edge acentuado para cortar a água. Hoje posso concentrar um pouco todo esse volume numa prancha menor, o que ajuda a se colocar nos tubos curvando por baixo do lip ou descendo mais grudado na parede. O fundo tem um double concave terminando em v para aliviar a pressão criada pelo concave. A laminação tem dois tecidos de 4 onças no deck e um de 6 onças no fundo”, diz Jon Pyzel sobre a prancha de John John Florence.

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