Surfe e medicina

Olho de surfista

Já ouviu falar sobre o Olho de Surfista? Dr. Guilherme Vieira Lima explica como essa doença pode afetar a galera no outside.

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Exemplo de pterígio progredindo para a região central do olho.

Bicho geográfico, galo na cabeça, olho de peixe, tendinite da pata de ganso, joelho do saltador, fratura por estresse… Parece mais uma receita de bruxa, mas todos esses nomes são lesões que o surfista pode encontrar pela frente. Mas e o tal de “olho de surfista”, você já ouviu falar?

Essa patologia se caracteriza pela formação do pterígio, uma membrana de tecido fibroso vascularizada que se forma no “canto do olho” e progride em direção a córnea. Ela surge em reposta inflamatória cicatricial ao ambiente ensolarado (raio ultravioleta UV), com vento e areia em que os olhos do surfista se expõem com frequência e que progride do canto dos olhos para a região central, podendo ser unilateral ou bilateral.

Obviamente não precisa ser surfista para desenvolver essa doença, qualquer pessoa exposta a essa situação pode evoluir com a lesão.

Em geral são benignas, porém podem acarretar sintomas desagradáveis como desconforto, lacrimejamento, ardência, ressecamento e irritação ocular, sensação de areia nos olhos, além da questão estética envolvida. Em alguns casos pode até alterar a curvatura da córnea, induzindo a um astigmatismo (dificuldade de focalizar os objetos próximos e distantes).

Quando muito avançado, o pterígio pode atingir a região central até a pupila, obstruindo a passagem da luz e comprometendo a visão como uma barreira mecânica. Mas o que fazer? O tratamento se baseia em medidas preventivas como:

– Evitar longas exposições ao sol e de maior irradiação UV.

– Sempre que estiver fora da água usar óculos escuros (de boa qualidade com
bloqueio UVA e UVB).

– Usar colírio lubrificante (atenção) somente após avaliação médica.

Em casos muito específicos, o pterígio é tratado de forma cirúrgica. Por isso a doença pode ser facilmente prevenida através das medidas descritas. Não ficar coçando o olho e não pingar qualquer tipo de colírio de forma indiscriminada são de extrema importância para evitar outros danos aos olhos. Em caso de dúvidas e desconforto agende uma consulta médica oftalmológica.

As empresas de óculos correm na busca de um modelo ideal para ser usado durante o surfe, mas nenhum mostrou-se ideal. A grande dificuldade é a tecnologia envolvida no desenvolvimento desse equipamento. Ele precisa ser “hidrofóbico” (expelir água após uma imersão), deve ser resistente a água do mar, ventilado para drenar a água, não embaçar, absorver o impacto após queda para não traumatizar os olhos, não cair da cabeça, UV resistente e principalmente confortável sem atrapalhar na performance. Tarefa difícil!

O uso de proteção nos olhos é tão importante quanto o uso de protetor solar na pele. Além do olho de surfista, muitas outras doenças podem ser evitadas com o uso dos óculos como fotoceratite, catarata e degeneração macular. Procure os modelos que possuem lentes grandes UVA e UVB-Bloqueadores, que evitem a entrada da radiação pela lateral e que fiquem próximas aos olhos. Nem todo modelo polarizado é UV bloqueador, por isso fique atento na descrição.

Exemplares de má qualidade podem causar mais lesão do que não usar, cuidado com aqueles comprados na feirinha da praia! E atenção, as crianças também devem se proteger!

Nota

– Gostaria de lembrar a todos sobre a conferência mundial de medicina do surfe (#WCSM18), que acontecerá entre dos dias 24 a 28 de setembro em Newquay, Cornwall, Inglaterra. Este e diversos outros temas sobre surfe e saúde serão abordados, vale a pena dar uma checada na programação.

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