Rodrigo Matsuda

De volta às origens

Mestre do shape artesanal, Rodrigo Matsuda embarca para nova temporada no Japão.

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Rodrigo Matsuda já viveu no Japão por 11 temporadas.

Com os olhos do esporte voltados para o Japão, sede das Olimpíadas em 2020, muitas pessoas têm buscado o país do sol nascente como referência.

É o caso do shaper Rodrigo Matsuda, que viveu por lá durante mais de uma década e recentemente decidiu retornar ao país para mais uma temporada.

Na entrevista abaixo, Matsuda fala sobre a volta ao lugar que o ensinou o lado profissional do shape, os planos para futuro e relembra a sua origem como fabricante de pranchas.

Por que você decidiu fazer essa viagem para o Japão e o que espera encontrar ou realizar?

Faziam cinco anos que estava direto no Guarujá (SP). Acho que de tempos em tempos temos que viajar, sair um pouco da nossa rotina. E programei esta viagem para o Japão, pois além da minha forte ligação com este país, estava em busca de reflexões, novas experiências, rever amigos e ter novas inspirações.

Este último ano fiquei bem animado com esse novo projeto das pranchas de cortiça. Seria uma boa oportunidade de trazer e apresentar ao Japão, já que aqui teria a oportunidade de shapear uma série especial, pois as madeiras para fazer as pranchas são sensacionais. E também acabei tendo a ideia de estudar novas técnicas em trabalhos com madeiras.

Aí, pretendo explorar o Japão fazendo pranchas, surfando, estudando e trocando experiências.

Até o momento, por onde passou, quem reencontrou e o que realizou?

Nesses quatro meses de viagem reencontrei muitos amigos, principalmente meu mestre Yuichi Endo. Já percorri por cinco províncias: Aichi, Shizuoka, Kanagawa, Nagano e Gifu.

Cheguei bem no inverno e, apesar do frio, peguei boas ondas e matei a saudade de andar de snowboard. Participei de uma exposição em uma surf-shop chamada Chill Out, que reuniu quatro amantes do mar que trabalham com madeiras, apresentei meu trabalho e agora estou shapeando algumas encomendas.

Também fui convidado a expor também no Interstyle, a maior feira em Yokohama no seguimento de esportes de pranchas, e estive presente com a Associação de Bodysurf do Japão, a JBA.

Shaper aproveita para surfar no gelado inverno nipônico.

Quais os planos para os próximos meses?

Nos próximos meses pretendo visitar mais cidades diferentes e mais artistas que trabalham com madeiras, aprender técnicas novas, conhecer mais ondas novas e também farei uma Expo do meu trabalho com intervenções de artistas japoneses que será bem legal. E estou com planos de ministrar um workshop de handplanes com outro shaper.

Quando começou a sua paixão pela arte de shapear?

Desde que comecei a surfar, com mais ou menos 12 anos, sempre me interessei pelos modelos das pranchas, de como elas eram feitas e quem as faziam. Até que um dia descasquei uma prancha antiga e tive a sensação de “shapear”. Mesmo sem saber o que estava fazendo, gostei muito da experiência, naquele momento algo despertou dentro de mim.

Você iniciou o trabalho artesanal antes mesmo de fabricar pranchas, nos conte como foi essa experiência.

Trabalhei desde os 14 anos com meu tio, José Mira, em todos os processos da produção de vasos de cerâmica. No ateliê ele trabalhava com madeira e pintava quadros, era um artista e tanto.

Acompanhei de perto seu processo de criação e até hoje lembro de conselhos sobre harmonização das curvas, cores e estética. Eu gostava muito de estar lá e nunca imaginaria que iria influenciar tanto no meu trabalho hoje.

Em que ano e como foi a decisão de se mudar para o Japão e quais suas memórias do Brasil nessa época?

Decidi ir para o Japão em 2000, com 19 anos. Na época trabalha no ateliê do meu tio e cursava desenho industrial. Adorava o curso, mas o custo era muito alto, então decidi trancar a faculdade e ir para o Japão, trabalhar, juntar uma grana, voltar e poder concluir o curso. Mas acabei gostando tanto do Japão e lá fiquei por 11 anos…

Como foi sua adaptação do outro lado do mundo?

Nos dois primeiros anos foi bem difícil, adolescente, longe da família e trabalhando 12 horas por dia, sem saber se comunicar, não foi fácil. Mas com o tempo me lembro que as coisas começaram a ficar mais interessantes a partir do momento que eu me desprendi do Brasil e passei a viver no Japão observando o país e sua cultura.

Ao lado dos shapes artesanais na terra do sol nascente.

Quais eram as principais diferenças culturais que enfrentou e que poderiam servir de lição ao Brasil?

Respeito ao próximo. Aqui as pessoas agem de uma forma que sempre está pensando nos outros e em ter um ambiente de respeito ao seu redor.

O que você tem no Guarujá que dá vontade de voltar correndo para o Brasil?

Vou fazer a lista de cinco coisas: minha família e o Buzz (o cão da família), amigos, meu container, frutas e feijoada (risos).

Hoje em dia qual tipo de prancha te dá mais prazer em shapear?

Shapear é um prazer enorme. Acho que os handplanes, pois quando estou shapeando me trazem algo especial. Fico feliz quando vejo alguém surfando de handplane, além da conexão com o mar, é uma atitude de desapego ao ego dentro do mundo do surfe.

Cite alguns nomes de bons surfistas que já surfaram com a Lasca?

Andrew Serrano, Junior Faria, Alexandre Wholters, Masatoshi Ohno, Caio e Ian Vaz, Claudia Gonçalves, Camilla Callado, Marcelo Trekinho, Jack McCoy, Bob McTavish, Munetoyo Tanaka, Komiya Yoshiharu, Fabiano Tissot, além de outros.

O que você gostaria de estar fazendo daqui a 20 anos?

Vou estar junto da família, desfrutando do mar, trabalhando com madeira e sendo reconhecido por isso. Vou buscar uma vida simples, tranquila e saudável.

Para finalizar, alguma dica para quem está querendo se aventurar nas plainas?

Estude, escute e treine bastante. Mas acredite, pois todos aprendemos com todos. Cada shaper tem seu estilo e suas prioridades nas suas criações. Ninguém está errado, mas às vezes apenas precisamos ajustar e equilibrar ideias!