Mar em fúria

As causas do avanço

Equipe do Projeto Geosurf esclarece as causas do avanço do mar nas regiões Sul e Sudeste.

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Construções sobre a faixa de areia geraram estragos na Praia da Macumba, Rio de Janeiro (RJ).

O avanço do mar em algumas praias do Sul e Sudeste brasileiro tem gerado muitas discussões sobre a real causa deste fenômeno. Em matéria publicada no site Pampa Barrels, a equipe do Projeto Geosurf buscou esclarecer algumas questões.

Em 2017, as ondulações provenientes de leste predominaram de forma constante e intensa (ressacas recorrentes e poucos dias de mar flat), sobretudo durante o outono e o inverno, época em que os swells vindos de sul geralmente são os protagonistas. As ondulações de leste “atingem de frente” grande parte do litoral sul, diferente da ondulação de sul, que atinge obliquamente.

Tal fenômeno resultou em distribuições anômalas dos sedimentos, dependendo da orientação da linha de costa de cada praia. Enquanto alguns setores da costa sofreram erosão intensa, deixando a faixa de praia mais estreita, em outros houve acumulação de sedimentos, aumentando a largura de faixa de areia da praia.

Nos trechos erosivos, a areia da beira da praia e das dunas, que antes formavam barreiras naturais contra o avanço do mar, é retirada pelas ondas e transferida para outros setores da costa e para bancos de areia externos. Com isso, qualquer aumento do nível do mar repentino – seja devido às grandes ondulações, aos fortes ventos vindos do mar ou à variação de maré – resulta no avanço do mar sobre a costa.

Praia Mole, em Florianópolis (SC).ND Online
Praia Mole, em Florianópolis (SC).

É difícil afirmar se este fenômeno é resultado de uma mudança climática global causada pelo ser humano, e reconhecemos que as calotas polares estão diminuindo, porém, sua influência nas mudanças do nível do mar não ocorre de forma brusca e instantânea. Entretanto, relatórios recentes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) apontam para alterações no padrão dos eventos oceanográficos extremos (frequência, intensidade e direção), e nesse sentido, podemos refletir sobre o comportamento atípico do clima e das ondas em 2017.

Por fim, é necessário que não se mude o foco do problema, e que se alerte para a necessidade de preservação das dunas frontais e para importância da dinâmica sedimentar no sistema costeiro. Construções mal planejadas que não respeitam a dinâmica natural do ambiente, além de alterar a dinâmica de construção de bancos de areia, estarão sempre susceptíveis à força do mar, acarretando muitas vezes em destruição, poluição e risco aos banhistas com os destroços.

O Projeto GeoSurf, organizado por alunos e profissionais das Geociências, propõe ações que incentivam, de forma harmoniosa, a divulgação da ciência e o incentivo ao esporte.