Igor Foerster

Batalha por São Chico

Fotógrafo e filmmaker, Igor Foerster fala sobre o impacto que a construção de um porto traria à cultura e ao ecossistema de São Francisco do Sul (SC).

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Surfistas batalham contra a construção de um porto na Praia do Forte.Humberto Cidral
Surfistas batalham contra a construção de um porto na Praia do Forte.

Recentemente, a Vissla conversou com o fotógrafo, filmmaker e surfista Igor Foerster, local de São Francisco do Sul (SC), que relatou um pouco de seu estilo de vida, da paixão pelo mar e do trabalho com as lentes.

Além disso, Foerster falou da luta pela preservação da Praia do Forte contra a instalação de um porto e uma consequente devastação ambiental na cidade do litoral norte catarinense.    

Quando foi o início de sua relação com o surfe?

Quando criança no final dos anos 80, compartilhávamos nossa casa no Balneário do Capri, em São Chico, com outras famílias de amigos nas férias. Um dos filhos de um casal de amigos uns 8 anos a mais que eu levava sempre sua prancha para surfar no Sumidouro (2 km caminhando do Capri pela praia).

Na verdade eu nunca pude chegar perto da prancha colorida dele, visto que eu deveria ter uns 7 anos na época e quando a prancha não estava com ele, ficava sempre muito bem guardada em uma capa grossa e longe das crianças da casa.

Eu já havia quebrado várias pranchas de isopor, mas a proibição e ciúmes que aquele brinquedo colorido mais resistente trazia, somadas com as histórias que eu escutava quando o Eduardo e o Serginho (seu primo) voltavam trazendo do Sumidouro, tenham me feito sonhar com um brinquedo desses para contar minhas próprias histórias também.

E foi com 9 anos de idade que ganhei de meu pai minha primeira prancha de fibra 6’2” Pro-Ilha shapeada pelo mestre Saulo Lyra. Dois anos depois eu e minha irmã após muita pressão conseguimos fazer com que nosso pai trocasse a casa no pacato balneário do Capri por outra na Prainha e foi aí que o surfe se tornou uma constante em vinha vida.

Baía da Babitonga conta com um importante ecossistema no litoral norte catarinense.

E quando começou a fotografar? 

A fotografia começou a ganhar espaço em minha vida com o advento das câmeras DSLR, pois até então dedicava meu tempo a captação de imagens de vídeo e edição. Mas aí vieram as câmeras fotográficas digitais que filmavam muito bem e após muito estudo e buscar referências, as coisas acabaram se invertendo e a fotografia acabou sendo onde dedico maior parte do meu tempo.

Existe uma foto sua preferida? 

Existe sim, uma composição na Praia Grande de uma onda de 1 pé com o casarão junto às pedras ao fundo, fazem daquele que vê a foto pensar que era um mar irado, mas na real é uma valinha que provavelmente não levaria um grommet.

De onde vem sua inspiração?

Essa é fácil. O mar, sem duvida é a minha maior inspiração, pois as possibilidades são infinitas: nuances, reflexos, texturas, cores, formas, tamanhos, diferem de todos os outros temas. Como consequência, uma foto no mar nunca sairá igual a outra e muitas vezes o resultado me surpreende.

Existe alguma imagem que gostaria de fazer que ainda está por vir?

Há muitas imagens que não fiz. Vivo sonhando com muitas delas (risos).

Igor Foerster ao lado da família em São Chico.

Hoje você vive da fotografia ou tem outros projetos?

Com o nascimento de uma criança tudo muda, você muda, as necessidades mudam, junto das prioridades. Hoje trabalho na área portuária como forma de garantir a renda familiar e tento conciliar meu trabalho com minha paixão pela fotografia.

É possível conciliar a vida entre fotógrafo, surfista e pai de dois meninos pequenos?

Está aí uma tarefa que não é fácil. Quando o Klaus nasceu (meu primeiro filho) hoje com 7 anos, a fotografia ficou estagnada por um período de mais ou menos dois anos. Agora com o nascimento do Noah, que está com 1 ano e 7 meses, tentei me manter um pouco mais ativo. Porém, confesso que não tanto quanto gostaria mas ele já esta chegando na barreira dos dois anos e a rotina fotográfica e o surfe começam a voltar a normalidade.

Sabemos sobre sua luta contra a construção de um porto na Praia do Forte. Por favor, nos conte um pouco como está a situação e qual seria o impacto ambiental, caso isso se concretize. 

Na verdade são vários grandes empreendimentos como portos, estaleiro e até um aeroporto tentando licenças de instalação em áreas críticas com um ecossistema riquíssimo chamado Baía da Babitonga, que abriga espécies ameaçadas de extinção como a Toninha, sendo o golfinho mais ameaçado de todo Atlântico Sul e atualmente é a única espécie de pequeno cetáceo ameaçada de extinção no Brasil, aves migratórias e única fonte de renda de centenas de famílias que vivem da pesca e cultura extrativista, no rico estuário localizado no estremo norte catarinense.

Visual mágico do Sumidouro.

O complexo portuário na Praia do Forte/Capri, por ser o maior projeto, teria um impacto incalculável e irreversível sobre a cultura, ecossistema e a vida de quem mora em São Chico. Implicaria no desmatamento de uma área de cerca de 1,2 milhões de metros quadrados, o equivalente a 160 campos de futebol, numa área de manguezal, restinga e dentro de uma APP (Área de Preservação Permanente). Além de extinguir provavelmente a onda mais perfeita da região, acabaria com a última praia virgem da ilha e consequentemente com o Balneário do Capri. Como efeito cascata, devido a interferência nas correntes marinhas, segundo estudos, teria como consequência o desaparecimento de parte do Balneário vizinho.

A estimativa caso o projeto se concretize seria dobrar a população da cidade que hoje já não consegue suprir as necessidades mínimas dos moradores ou dos veranistas que aqui frequentam, onde a falta de água é uma constante, saneamento básico quase inexistente e com grande dificuldade no acesso em que veranistas passam até seis horas para cruzar 40 km e chegar nos balneários nos finais de semana.

Na verdade é uma briga de David contra Golias como o próprio prefeito da cidade já disse. Pois o projeto faraônico desse porto, que jorra dinheiro (que sabe-se lá de onde vem) por toda a cidade abastecendo meios de comunicação que publicam notícias tendenciosas, quando não mentirosas. Espalham outdoors com promessas que dificilmente seriam cumpridas, patrocinam diversos projetos e pessoas pela cidade e que tem como seus principais embaixadores os vereadores da cidade, “estranhamente”, mesmo contra a vontade da maioria da população.

Existe alguma maneira que as pessoas poderiam ajudar a preservar este local e contribuir nessa luta?

Muito já foi feito como abaixo-assinados, compartilhamento de publicações, questionamentos na audiência pública que foi a maior já realizada no Estado de Santa Catarina, manifestações, exposições fotográficas, pessoas influentes como Gabriel O Pensador e Adriano de Souza defendendo a preservação da vida na Baía da Babitonga, tudo é válido.

Porém, após passar por várias etapas, hoje a melhor forma de contribuir é pressionar os vereadores, comparecendo nas audiências que irão ocorrer na Câmara para aprovação do novo plano diretor da cidade, este feito em parceria com a comunidade, apoiando sempre as manifestações em defesa da vida na Babitonga e desacreditar meios de comunicação patrocinados pelo famigerado empreendimento.

Quais são seus próximos projetos criativos?

Tenho em mente um trabalho de documentação que retrate as belezas naturais e culturais no estuário junto ao seu entorno, em parceria com a universidade local, usando a fotografia como um meio de sensibilizar quem vê e fazer do registro fotográfico um bem maior.

Neste lugar, assim como no nosso país, que não tem o costume de cultivar suas riquezas naturais, terei como objetivo seduzir as pessoas em conhecer, respeitar, agir e preservar esse fantástico patrimônio que representa a vida e detém 80% dos manguezais catarinenses que chamamos de Baía da Babitonga.