Motaury Porto

Chicama revisitada

Motaury Porto percorre ondas quilométricas em sua segunda visita de foilsurf às esquerdas de Chicama, Peru.

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Aos 55 anos, Motaury Porto encontra “juventude surfística” no foilsurf.

Minhas pernas estavam queimando, tinha acabado de surfar uma onda de 4 minutos e 10 segundos! O Rafael Prazeres vinha filmando com o celular atrás de mim, no bote inflável pilotado pelo Giancarlo, da @chicama_surfing. Meu Deus, que sensação maravilhosa estar “flutuando” sobre as vagas oceânicas em alta velocidade!

Era minha segunda temporada seguida de foilsurf em Chicama e Pacasmayo – duas das esquerdas mais longas do Peru e do mundo.

O foilsurf trouxe para mim, uma espécie de “juventude surfística”, já que dentro de alguns dias estarei completando 55 anos. Pego onda desde a metade dos anos 1970 e minha vida e escolhas foram permeadas, em grande parte, pelo estilo de vida que o surfe proporciona.

Por mais de 25 anos trabalhei como fotógrafo colaborador de inúmeras revistas de surfe. Fui também colunista aqui do Waves por 12 anos. Acabei me mudando para Floripa no final dos anos 1980 para ficar mais perto das ondas e sempre gostei de experimentar novas modalidades. Assim foi com o windsurf, kitesurf, SUP e recentemente, desde 2017, o foilsurf.

Mapa mostra as grandes distâncias percorridas em uma sessão.

Foi um processo muito interessante e difícil o aprendizado do foil. Tive que praticamente deletar tudo que conhecia sobre o surfe e começar do zero. Os princípios físicos que regem esta modalidade são muito específicos. O posicionamento na prancha, o centro de gravidade, tudo é completamente diferente.

Mas valeu à pena os meses de treino e dedicação, os investimentos em equipamentos para que pudesse estar em uma onda tão incrível como Chicama e desfrutar desta sensação única. Na verdade o foil está muito mais para o snowboard, pois a impressão é que você está “descendo uma montanha de neve” em alta velocidade – o que não deixa de ser verdade, pois surfar de foil em Chicama é percorrer uma “montanha de água” a mais de 35 km/h.

Neste ano, estava com um equipamento melhor que o do ano passado e muito bem ajustado. Alexandre Tavares, da @kingfoil, produzira alguns meses minha prancha 4’0” com quase 50 litros de flutuação; um mastro de 70cm e asa frontal de 70 cm, ideal para altas velocidades. Pude treinar e ajustar o equipamento e o resultado foi incrível. Minha técnica tem melhorado aos poucos e tenho ainda muito a aprimorar.

Com relação a Chicama, creio que deve ser uma das melhores ondas para foilsurf do mundo. Ela pode ser surfada desde o Cape, passando por todas as seções e emendar até o Píer, numa distância de impressionantes quatro quilômetros!

Feliz da vida esperando a carona de volta ao outside.

Laird Hamilton e David Kalama já haviam percorrido todo o trajeto ano retrasado e meus amigos de viagem, os foilers Fernado Novaes e Lucas Petroni, fizeram quase o mesmo percurso em 2018, num total de seis minutos e alguns segundos, tudo registrado em vídeo com a GoPro, em seus canais no YouTube.

Nos dias que estive em Chicama, o swell ainda estava pequeno, mas em duas ocasiões surfei ondas acima da casa dos quatro minutos, sendo que em uma consegui passar pelo Point, e só não segui adiante até El Hombre pois a onda acabou. Mas as demais ondas todas, eram com no mínimo 1 minuto e meio de percurso.

Estar bem instalado, alimentado e ter toda a estrutura do Chicama Boutique Hotel, onde fui carinhosamente muito bem servido, e ainda contar com o apoio do “Uber Chicama”, como comecei a chamar meu amigo Giancarlo, que em todas minhas sessões me levava até o Cape e me resgatava ao final de cada onda – e ainda fotografando cada momento – foi algo maravilhoso!

Não poderia deixar de agradecer ao Rafael que deu todo o apoio logístico e filmou do bote com o celular inúmeras ondas e também ao local Zorro que filmou do clif algumas ondas, inclusive a mais longa delas.

Ainda tive a oportunidade de fazer alguns novos amigos e conhecer o legend do surfe brasileiro, o Bruzzi, de Ubatuba (SP), que estava com seu filho André. Aliás, fiquei muito impressionado em ver a disposição dele, que do alto de seus 64 anos estava com seu SUPfoil iniciando no esporte. Que exemplo de disposição e vitalidade!

A viagem continuou por mais alguns dias em Pacasmayo, onde encontrei o grupo de velejadores do Fabian Castilha e pude pegar altas ondas de pranchinha, além de velejar de kitesurf.

Mas quando já estava para voltar para o Brasil, um dia antes, mais uma surpresa: o campeão brasileiro de SUP e waterman Luis Saraiva me convidava para uma sessão de foilsurf rebocado de jet-ski nas mega extensas ondas de Pacasmayo.

Desta vez o registro das imagens ficou por conta do Miguel Cortez (@miguelcortez_shots) que com seu drone, fez vídeos espetaculares!

Para aqueles que se interessarem em praticar o foilsurf, podem me mandar um direct pela minha conta do Instagram. Será um prazer.