Pedro Calado

Debutante em Teahupoo

Vice-campeão do Big Wave Tour 16/17, Pedro Calado pega ondulações mágicas em sua primeira visita a Teahupoo e conta como foi a trip.

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“Foi a melhor visão que eu já tive”: Pedro Calado em Teahupoo, Taiti.

Quando se fala de ondas grandes, o nome dele surge. Pedro Calado é um big rider carioca que já concorreu a prêmios do XXL, o Oscar do surfe de onda grandes, e foi vice-campeão do Big Wave Tour 16/17.

Calado tem cinco temporadas havaianas, sete mexicanas e no ano passado ficou dois meses e meio em Portugal, treinando nas bombas de Nazaré. Ele também já surfou um swell de 20 pés em Mavericks, na Califórnia (EUA), com apenas mais duas pessoas na água – Lucas Chianca e Trevor Carlson.

Mas ele ainda sonha em pegar ondas grandes e perfeitas em vários picos espalhados pelo mundo, como Todos os Santos (México) e Fiji, e neste ano ele conheceu um: Teahupoo, no Taiti. Calado deu muita sorte e pegou duas ondulações perfeitas nos 23 dias em que ficou na Polinésia Francesa.

Agora, o carioca está no México, surfando os tubos pesados de Zicatela, em Puerto Escondido, e de lá contou com exclusividade para o Waves a experiência que viveu no Taiti.

O foco da trip foi mais em Teahupoo ou você também partiu em busca de outras ondas?

Foi mais Teahupoo mesmo. Eu estava sem muita verba pra ir a outros lugares, porque a cada saída você tem que conseguir um barco, um jet-ski, e acaba ficando caro. Então, a função foi só Teahupoo. Fiquei praticamente em frente ao pico, umas ruas atrás. Eu ia caminhando, pulava no point e era mais uns 20 minutos de remada.

No fim da trip eu fui pra Moorea, com a intenção de surfar uma outra onda, uma direita, mas quando chegamos lá não estava muito bom. Mas foi bom pra dar um rolé, pra conhecer uma das ilhas mais bonitas do mundo, como muitos falam. Foi maneiro pra caramba conhecer esse lugar.

Pedro Calado no Taiti.

Deu muita onda enquanto você esteve no Taiti. Como foram as principais sessões?

As principais sessões foram um fim de tarde no meu primeiro swell. Pela manhã não consegui me adaptar, pois estava muito crowd. Até tinha umas ondas, mas a maior e melhor que peguei tomei um rabeadão, fiquei bastante tempo embaixo d’água, o colete que eu usava encheu d’água, passei um perrengue. Na verdade, esse foi o perrengue da trip. E logo que eu subi veio uma onda de tow-in que o Raimana (Van Bastolaer) pegou. Não cheguei a tomar a onda em cheio, mas eu peguei a prancha e tive que abandoná-la, o strep esticou, mas consegui passar para o outro lado e na sequência o jet-ski veio me pegar.

Bem no fim de tarde desse dia, peguei umas três ondas absurdas. Quando surfei as minhas duas últimas ondas, eu estava sozinho no mar e foi uma experiência espiritual, uma condição épica, glass, fim de tarde, bem mágico… Essa foi uma sessão que marcou bastante.

Teve outra que foi um dia depois do maior swell. O mar não estava grande e a galera não estava botando muita fé, mas eu estava ali pegando umas ondas e do nada veio uma maior, com uns 8 pés. Começou com uns 6, e quanto entrou no “west bowl” ficou com uns 8 pés. Foi a melhor visão que eu já tive, uma parada gelatina, azul, muito cilíndrico. Essa onda me marcou bastante.

O que mais te chamou a atenção em Teahupoo?

Foi a quantidade de gente se machucando. Todo dia tinha gente saindo ralada, ferrada. Um moleque deslocou o cotovelo e ficou um tempão fora d’água. Ele voltou com a onda e lenhou a perna toda, parece que tomou uns pontos no pé também. Isso me chamou bastante a atenção, o fato de a galera se machucar com muita frequência lá.

Dá pra comparar Teahupoo a alguma outra onda no mundo?

Acho que viajei pouco comparado com a galera. Já surfei várias ondas, mas tem muitas que não conheço, porém, das que já surfei, não dá pra comparar. Aquela onda é muito perfeita! Ela vem num lugar só e eu peguei condições épicas, com pouco vento, bem gelatina, bem liso, bem piscina de ondas (risos), com muita perfeição.

Eu acho que não… Acho que essa onda é única. Dizem que é a melhor do mundo…

Qual a maior dificuldade em Teahupoo?

O drop. Fez o drop, é só correr para o abraço, basicamente. O drop é o mais difícil. Tem que se colocar muito bem pra acertar. Pelo menos naquele tamanho, acima de 8 pés, o drop é bem difícil, de cabeça pra baixo.

Outra dificuldade é o crowd, pelo menos senti isso nessas duas ondulações, que foram as primeiras da temporada. O pessoal falou que ia bastante gente e que os locais estavam com muita fome, pois estavam há um tempo sem surfar.

O crowd contou bastante, até na escolha das ondas atrapalha, mas se tiver sozinho e vier uma gigante, também é sinistro (risos). A onda vem. Se você estiver esperando, e sozinho, a onda vai vir, e aí só depende de você. Mas nesse swell foi uma galera e isso me atrapalhou um pouco.

Pra terminar, você foi vice-campeão do BWT 16/17. O foco é voltar para o Circuito Mundial de Ondas Grandes ou você tem outros planos?

Meu foco é, sim, voltar pro Circuito. Estou batalhando pra isso. Eu tenho que pegar ondulações, tenho que ir pra swell grande e ter boas performances pra tentar voltar. Se eu for em várias ondulações e for bem em umas três durante o ano, talvez eu consiga fazer um “Performance Of The Year”, que pode me colocar dentro do circuito. Esse é o objetivo, pegar swell, pegar onda boa, mas acho que o mais importante é mesmo pegar onda boa.

No ano passado eu peguei uma onda aqui em Puerto Escondido, uma esquerda que concorreu ao Ride Of The Year, mas não foi finalista, porém, acho que só de ter entrado já conta bastante. E fui finalista do “Monster Paddle” com uma onda em Nazaré.

Então tive essas duas ondas no ano passado. Pensei: ‘Caramba, peguei essas duas, então acho que vou conseguir voltar para o BWT pelo Performance Of The Year. Fui na festa do XXl achando que poderia rolar esse convite, mas não rolou, eu não fiquei entre os finalistas.

Tiveram outros caras que, na minha visão, não se destacaram tanto e foram convidados. Lógico que também chamaram surfistas como o Nic von Rupp, que foi um dos destaques do ano. O moleque se joga! Mas são cinco que entram, e eu fiquei meio bolado de não ter entrado no lugar de alguns deles…

Mas é isso, meu foco é pegar onda grande, pegar os tubos da minha vida, pegar as maiores ondas que aparecerem na minha frente. Esse é o meu objetivo. O campeonato vai ser uma consequência. Se eu estiver me dando bem nas ondas grandes, o campeonato vai vir. E quando eu entrar, o foco vai ser pra ganhar.