Rip Curl Pro Portugal

Italo pulsante

Tulio Brandão fala sobre o show de Italo Ferreira nas finais do MEO Rip Curl Pro Portugal e a briga pelo título mundial.

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Em Portugal, sobretudo no dia decisivo, o surfe pulsante de Italo Ferreira atropelou, sem apelação, quem esteve no caminho.

O Italo Ferreira de 2018 vive os altos e baixos de um coração, em sístole e diástole contínua durante a temporada. Em Portugal, sobretudo no dia decisivo, o surfe pulsante do potiguar atropelou, sem apelação, quem esteve no caminho.

O público de Supertubos viu a vitória esmagadora de um surfista que, quando atinge seus picos, aponta isso não só no surfe, mas no comportamento eufórico e expressivo.

São fáceis de notar os batimentos por temporada do surfista: foram três vitórias-sístoles, que lhe valeram 30 mil pontos. A diástole, de enfartar torcedor, prevaleceu em seis etapas: cinco décimo-terceiros e um vigésimo-quinto lugares. Só uma vez no ano, no Taiti, o potiguar fez um resultado regular – um quinto posto.

Na casa dos 43 mil pontos, o surfista brilhante de pulsos e picos, sem chances de título, tem como desafio óbvio na temporada de 2019 recuperar a regularidade de 2015, ano em que estreou na elite, quando conquistou um nono, três quintos, dois terceiros e um vice-campeonato, este último na mesma praia em que venceu dias atrás.

Se juntar a regularidade de um ano com a contundência de outro, vai para o título.

O público de Supertubos viu a vitória esmagadora de um surfista que, quando atinge seus picos, aponta isso não só no surfe, mas no comportamento eufórico e expressivo.

Em Portugal, Italo chegou à primeira vitória de frente para a onda – as duas outras conquistas do goofy foram nas direitas de Bells e Keramas. No dia decisivo, com pequenas rampas afeitas à explosão de seu surfe aéreo, ele esteve notadamente imbatível. No caminho, estava o líder Gabriel Medina, derrotado na semifinal.

Em conversa antes da bateria, Italo e o campeão de 2014 chegaram à mesma conclusão: não seria uma bateria convencional, e sim um “air show”.

Italo levou vantagem, com aéreos altíssimos, rotações perfeitas e voltas limpas à onda. Naquelas condições, só dois surfistas chegam perto do potiguar: Gabriel, que perdeu nos últimos minutos para a maior projeção de Italo, e Filipe Toledo, novamente derrotado precocemente, no round 3, numa etapa que poderia ter saído com a vitória.

Aqui, um rápido parêntese: apesar do show do campeão, a chamada do evento no sábado acabou por se mostrar equivocada. A direção de prova fez apenas uma bateria na véspera, quando as condições eram infinitamente melhores, apostando num swell mais consistente, que, a despeito da previsão, não se confirmou. Erraram.

Gabriel Medina surfou muito bem durante todo o evento e, com o terceiro, acumula quatro resultados fantásticos nas últimas quatro provas da temporada.

De volta à ação, a final nem precisava ter entrado na água. Com um repertório limitado de manobras aéreas, o bom francês Joan Duru tinha um teto baixo de pontuação, limitado pelas circunstâncias do mar, que pontuava alto os movimentos rotatórios do brasileiro. Bastava Italo acertar as manobras, o que aconteceu.

Duru é um bom surfista, um clássico goofy que acerta a linha e a potência sobretudo de costas para a onda. Andou por toda a temporada apagado, mas em Portugal escalou os holofotes ao eliminar, no caminho à final, nomes como Toledo, Julian Wilson e, na semifinal, Owen Wright. O australiano, aliás, acordou da hibernação. Está afiadíssimo. Faz um bom ano e merece a condição de top 5.

Gabriel vinha embalado, a duas baterias do título, mas nem o amuleto Neymar o ajudou a superar o imparável Italo na outra semifinal. De todo modo, surfou muito bem durante todo o evento e, com o terceiro, acumula quatro resultados fantásticos nas últimas quatro provas da temporada.

Atrás dele, estão, agora rigorosamente empatados, Julian Wilson e Filipe Toledo. Julian vinha bem em Portugal, mas perdeu para a inconsistência do mar no dia decisivo. Se houvesse onda, provavelmente venceria a disputa com Duru. Está afiadíssimo.

Joan Duru andou por toda a temporada apagado, mas em Portugal escalou os holofotes ao eliminar, no caminho à final, nomes como Toledo, Julian Wilson e, na semifinal, Owen Wright.

Agora, holofotes no Havaí. Gabriel, em modo vencedor faz tempo, está mais perto do título. Julian, o único Pipe Master, e Toledo precisam chegar à final se ainda quiserem o título. Por razões diversas, o australiano é a ameaça mais óbvia, mas eu não descartaria o talentoso surfista do Ubatuba, sobretudo se a disputa for em Backdoor.

Nunca é demais lembrar da briga de 2015, quando deu, contra todos os prognósticos e contra a banca, Adriano de Souza.

A única torcida, mesmo, será para a WSL deixar o jogo correr livremente, com juízes esforçando-se para deixar de lado possíveis preferidos, e sem interrupções de evento para favorecer um ou outro surfista.

Se deixarem por conta desses três surfistas, todos no auge de suas carreiras, o show de surfe estará garantido. Quem puder, vá ver de perto. Será histórico.