Espêice Fia

Rolé na Califa – parte IV

Fabinho Gouveia encontra shapers brasileiros na Califórnia e visita museu de pranchas de Fernando Aguerre, presidente da ISA.

0
Fabinho Gouveia e o icônico shaper brasileiro Paulo Xanadu.

Saindo da session na região de Santa Barbara, onde havíamos ido ao encontro com Tom Curren, agora já nos encontrávamos mais uma vez em San Diego. Nossa primeira parada matinal era na Xanadu Surfboards, do icônico shaper brasileiro Paulo Xanadu, que fez bastante sucesso na América nos anos 90 e continua com a mão afiada, criando e fazendo foguetes.

Fiquei bem feliz em reencontrar “Zanadú”, como é mais conhecido na área pela pronúncia da língua. Fui patrocinado por ele por um bom tempo a partir de 93. Com suas pranchas diferenciadas, inicialmente me vi em apuros, pois seus outlines futurísticos pra época eram totalmente diferentes das minhas Custom Surfboards e outras variadas marcas que estava usando na época.

Ali coincidia com a era Slater, de pranchas estreitas e bico inclinado acentuadamente. Brad Gerlach havia acabado de ser vice-campeão mundial com suas pranchas e o “paulistano gringo” estava em alta na terra do Tio Sam.

Inicialmente tive dificuldade nas pranchas maroleiras devido ao estreitamento, mas bastaram alguns ajustes para que eu conhecesse uma prancha mágica. Prancha essa que me tirou da síndrome de “pranchofobia” pra acertar de vez até os dias de hoje meu equipamento ideal. 

Ali começava uma nova revolução pra mim, pranchas mais largas e com uma a duas polegadas menores.

Califórnia (EUA)

Alguns caras começaram a usar duas polegadas a menos, mas me adaptei apenas com uma. Com aquele modelo de 5’10” larguinho, venci dois eventos na piscina de ondas no Japão (93 e 94), etapas do WQS e do circuito brasileiro, além evento estadual. 

Foram vários anos na vanguarda de outlines e inovando sempre.

Na América, é comum a turma ter estruturas enxutas para fabricação e hoje a Xanadu Surfboards está mais compacta, estando inclusive finalizando algumas pranchas na Shaper Eye Surfboards, de propriedade de Marcio Zouvi, outro brasileiro que chegou na gringa e com muito trabalho e dedicação chega a seu auge na era Brazilian Storm, alavancado pelo sucesso de seu team rider Filipe Toledo.

Também já usei muitas pranchas do Marcio no fim dos anos 90 e começo dos anos 2000, e o que me levou até ele também nesta jornada em Cali foi o fato do meu filho Ian agora ser seu patrocinado. Em uma tentativa de contribuir com a produtividade de ambos, fui para um bom diálogo. Marcio é didático e está bem ligado, não à toa está onde está neste momento chave, onde a concorrência é tremenda.

Fico muito orgulhoso de ver e ter acompanhado os sucessos de Xanadu e Marcio. A ambos sou grato pelas ótimas pranchas que fizeram pra mim e guardo com carinho algumas dessas pranchas em meu museu particular.

Foguetes clássicos no museu de Fernando Aguerre.

E falando em museu, seguimos a dica do nosso amigo Taylor Knox, quando incialmente havíamos desembarcado na Califa e estávamos em sua casa, alegres de estar vendo sua coleção de pranchas. Ali, Taylor nos disse: “Se vocês gostam de pranchas, deveriam fazer uma visita a Fernando Aguerre, pois ele tem uma das mais belas coleções de pranchas de surfe do mundo”.

E após a nossa visita ao Zouvi, fomos até La Jolla encontrar o presidente da ISA (Internacional Surfing Association). 

Fernando foi o criador da marca Reef Brazil, que ficou famosa por seus anúncios com seus team riders e belas modelos. Um comunicador nato, vendeu a marca há alguns anos e focou em tornar o surfe olímpico, feito este que foi alcançado durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro com estreia marcada para o Japão em 2020.

Aguerre cordialmente nos levou a um tour em sua bela casa, à beira do cliff de La Jolla. Em nossa entrada, já vimos logo uma icônica prancha vermelha de Eddie Aikau, com a qual o legend havaiano aparece em várias fotos descendo as ondas na baía de Waimea. Ao lado dela, um OLO, pertencente a Duke Kahanamoku, o pai do surfe moderno.

E seguindo o que deve ser pra ele um ritual sagrado, fomos vendo pranchas de Gerry Lopez, Rory Russel, Mark Richards, Shaun Tomson, Simon Anderson, Kelly Slater, Lisa Andersen e tantas outras que já nem lembro. 

De fato fiquei atônito naquela tarde, mas em uma partida no totó pra descontrair, consegui mandar uma bola pra dentro do time argentino (risos).

Fabinho acelera em Windansea.

Rivalidades à parte, a brincadeira foi ótima e saímos de lá muito amarradões. Quando agradecemos e o parabenizamos por todo aquele acervo, fui surpreendido por um: “Falta apenas prancha do titulo mundial amador de Puerto Rico 88, Fabio!”. E entre risadas, eu disse: “Seria uma honra pra mim, mas a original está em meu museu particular. Mas terei um enorme prazer em presenteá-lo com uma réplica shapeada por mim (risos)”.

O fim de tarde prometia um ótimo surfe em Windansea. Gostaria de ter feito aquela session com Fernando, pois empolgado que só ele, eu tava era fissurado depois de escutar sobre as ondas do pico. Não pensei duas vezes em pegar minha fish biquilha e me picar pro pico. Ondas geladas de 3 a 5 pés fizeram minha cabeça e a do nosso grupo liderado por Luciano Burin, nosso produtor cuja bandeira tem a Scult Filmes.

Foi muito bom estar novamente na Califórnia absorvendo toda aquela cultura surfe. Saí de lá renovado, com muitas ideias e mais fissurado ainda em prancha de surfe. E para Luciano, tenho certeza de que foi uma realização pessoal, mas que vem com muito trabalho de edição. E competente que é, não tenham dúvidas, o nosso programa vai ficar muito legal. Aguardem em breve no Canal Off.

Veja mais fotos: