Muitas Águas

O surf e a terceira idade

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Idosos como Rabbit Kekai precisam ser tratados com respeito e dignidade. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

À medida que o tempo vai passando (e ele passa mesmo!), vamos notando suas marcas. Não precisa nem ir muito longe. Bem perto no nosso próprio corpo, a idade vai transformando nossa “casa” e basta olhar pro espelho ou aquela foto mais antiga pra ver a mudança.

Este ano, completei 34 anos nas ondas desde que ganhei minha primeira prancha, lá no Guarujá (SP), no Natal de 1976. E foi na praia de Pitangueiras que nasceu minha paixão pelo surf.

 

Muitas águas, literalmente, passaram pela minha prancha e vida, e graças a Deus o surf continua firme e forte, apesar de alguns cabelos brancos e das entradas, ou calvície, pra ser mais objetivo.

Alías, o que tem me chamado a atenção ultimamente é a grande quantidade de “coroas” surfando nos line-ups

Gary Linden, 60, durante session irada em Oregon (EUA). Foto: Richard Hallman / Freelanceimaging.com.

brasileiros e mundo afora.

 

Nosso querido Brasil, até então uma nação jovem, vem se transformando num Brasil “grisalho”, e os surfistas, aqueles que sobreviveram às pressões e circunstâncias da vida, ainda remam, já com menos velocidade, em busca de suas ondas.

É muito interessante ver que em povos mais evoluídos e de bom senso, o idoso é tratado com mais respeito e dignidade, afinal foram eles que construíram aquelas sociedades e abriram a porta para os mais jovens.

 

Aqui mesmo começamos  a nos deparar com este quadro de milhões de brasileiros “grisalhos” e estamos aprendendo a conviver com eles. Já faz alguns anos que meu pai faleceu (mais de 80 anos), minha mãe é uma senhora muito disposta com mais de 70 anos e muitos parentes meus – e seus também – estão na casa dos 80, 90 e por que não 100! Afinal, a média de vida no Brasil, e no mundo em geral, tem aumentado.

 

Por outro lado, outro dia destes, assistindo ao Jornal Nacional, fiquei decepcionado com a quantidade de pessoas que desrespeitam, por exemplo, a vaga pra idosos e / ou deficientes nos estacionamentos.

 

Deveríamos observar com mais atenção e respeitar aqueles que já caminharam mais pela estrada da vida e têm muito a nos ensinar, além de que, ao agirmos assim, somos também exemplo para os mais novos.

E no surf? Como estaremos tratando nossos brothers que desbravaram os mares nunca antes navegados?

 

Aquele “senhor” com um pranchão que de repente te “atrapalhou” na remada da onda da série, ficando bem na sua frente, ou aquele outro “coroa” de boné, protegendo sua pele já castigada por anos de sol, pode ser uma pessoa que, com poucas palavras, nem que ditas entre uma série e outra, pode te acresentar muito, seja dando um toque no surf mesmo, comentando uma manobra, o estilo, falando também de shapes, posicionamento de quilhas, remada, de como a correnteza, as marés, ventos e demais manifestações da natureza influenciam no pico que você tanto gosta de surfar, ou te mostrar uma onda secreta!

 

Pode te dar um toque também dos mais folgados, dos brothers gente fina e com isto te livrar de muitas roubadas e quem sabe até te apresentar a filha, que já surfa e é uma gatinha!!!

Bom, não sei se seria o caso de criarmos vagas pra surfistas idosos estacionarem suas carangas ou bikes, ou uma regra de preferência pra eles droparem nas ondas das série, e qual seria a idade a se considerar um idoso do surf, ou dinossauro, como chamamos nossos antepassados das remadas, mas uma coisa é certa, até porque, em minhas leituras diárias da Bíblia, meu manual de vida, tenho observado muito a importância de acolhermos os mais velhos.

 

Fica aqui apenas duas, de tantas referências que tenho lido: “Ouça os conselhos e esteja pronto para aprender; assim, um dia você será sábio” – provérbios 19;20. Ou “A beleza dos jovens está na sua força, e o enfeite dos velhos são os seus cabelos brancos” – provérbios 20:29. 

 

E que, acima de idade, cor, sexo, tipo de prancha (pranchinha, bodyboard, long, stand up, etc), local ou haole, o respeito, este sim, seja a marca que vamos deixar na vida e que assim, os mais novos vejam em nós o exemplo a seguir.

Vida longa a todos, vida long ao surf e aos surfistas e enquanto não vem a aposentadoria (que eu creio que nenhum surfista de alma deseja), fica aqui meu mais sincero IUHUUUUUUU!!