Nova onda

Canaletas sintonizadas

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Em 2015 Mick Fanning retomou uma ideia quase totalmente abandonada. Competiu com pranchas feitas por Darren Handley, com canaletas, num evento na Gold Coast, depois em J-Bay. Usou algumas versões nos anos seguintes e continua sempre com algumas canaletadas no quiver. Isso gerou visibilidade.

Depois, aos poucos, a coisa foi tomando seu espaço, para desespero dos laminadores. O embalo também veio por conta dos shapes de Daniel Thomson e o surfe de Kelly Slater. A verdade é que, com alguns ajustes e melhor entendimento do que se pode ou não fazer num shape com as tais canaletas, além do desenvolvimento dos métodos de laminação e quilhas de encaixe, as coisas fluem diferente de décadas atrás.

O conceito básico. Influenciar o fluxo de água no fundo da prancha. Os canais fazem uma linha reta através do rocker do bottom (curva do fundo), removendo a curva e criando uma distância mais curta para a água passar, desde onde eles começam até onde saem. Eles também adicionam direcionamento e resistência. Alan Byrne (Byrning Spears Surfboards), shaper reconhecido por suas pranchas canaletadas, na época, teve que fabricar suas próprias quilhas com área reduzida para combater a pegada lateral dos canais.

 

 

Legenda vídeo: No famoso The Performers, Gary “Kong” Elkerton mostrou como suas canaletas funcionavam. Foi vice-campeão mundial em 87, 90 e 93, perdendo sempre em situações controversas. Foi o primeiro não havaiano a vencer o Triple Crown (86 e 89). É Pipe Master (89). Tricampeão master.

 

Mas a água nem sempre flui em linha reta pelo fundo de uma prancha e a natureza dramática dos canais faz com que, às vezes, interfiram no desempenho. Ao menos é assim que a teoria negativa funciona. Faz sentido. Há momentos em que a água acaba sendo direcionada transversalmente pelo fundo da prancha e as canaletas criam um pouco de instabilidade, turbulência. Mas não foi só, ou exatamente isso, o que causou a saída das canaletas do cenário, há vinte anos.

Elas surgiram no começo dos anos 80 e tiveram seus adeptos e detratores, mas os experimentos com concaves de Greg Webber, no início dos anos 90, misturados ao custo de mão-de-obra inevitavelmente mais caro, tiveram mais a ver com o abandono da ideia, a não ser pelo Byrne e, atualmente, por seu discípulo Dale Wilson.

 

Uma prancha do meio dos anos 80, feita pelo Kareca da Shine Surfboards, me chamou a atenção. A relíquia tinha ares de Gary “Kong” Elkerton e suas seis canaletas, profundas e quinudas, me deixaram com vontade de relembrar como aquilo funcionava. Victor Bernardo, team rider da Shine, tem surfado muito bem com pranchas canaletadas, em vários tipos de onda.

 

Kareca, assim como outros shapers que entendem de design, desenhou um modelo performance, diminuiu o número de canaletas e fez alguns outros ajustes. Espero poder testar em breve, depois conto como foi.